terça-feira, 30 de outubro de 2018

Gincana entre turmas de Catequese de Eucaristia.














Por que consagrar a criança a Nossa Senhora no batismo?



Os santos são unânimes em afirmar que nenhuma intercessão diante de Deus é tão eficaz como a intercessão da Virgem Maria por nós

Já se tornou um belo costume católico os pais consagrarem as crianças a Nossa Senhora após o batismo. Criou-se até o costume de escolherem uma madrinha para a criança nesta consagração. Isso tem sentido? É válido?
Sim, claro que é! A Igreja recomenda a nossa consagração a Nossa Senhora todos os dias de nossa vida. O motivo é muito simples e claro: Ela é nossa Mãe bendita. Aos pés da Cruz, antes de entregar o Seu Espírito ao Pai, Jesus nos deu a Sua Mãe para ser nossa Mãe. Isso não é pouco, é muito! Se Jesus assim o fez, é porque precisamos dela.

Jesus nos deu Sua Mãe como nossa intercessora

Depois de nos ter dado tudo, Sua vida, o Evangelho, Ele nos deu a Sua Mãe. Vendo aos pés da Cruz o discípulo que amava, São João, Jesus entregou Maria para ser sua Mãe e nossa. Todos os Papas e santos viram, nesta cena, São João representado cada um de nós, cada um daqueles que Jesus resgatou com o Seu preciosíssimo Sangue redentor, a quem Ele confiou Sua Mãe.
Em seguida, disse o evangelista: “O discípulo a levou para sua casa” (João 19,27), porque ela já não tinha mais o seu José nem tinha outros filhos. São João a levou para Éfeso, a grande cidade romana que era a capital da província romana do Oriente Médio. São João foi para ali evangelizar aquela enorme cidade que tinha cerca de 300 mil pessoas, e levou com ele a sua e a nossa Mãe querida.
Ainda hoje, existe, ali em Éfeso, um Santuário Mariano onde está a casinha que eles viveram, no alto de uma montanha, e que muitos peregrinos visitam, inclusive os que fazem a peregrinação da Canção Nova com a Obra de Maria, nos “Caminhos de São Paulo”.

Intercessão dos santos

Ora, se Jesus nos deu a Sua Mãe para ser também nossa Mãe, é porque precisamos dela para a nossa salvação. Os Santos doutores, como Santo Agostinho, São Bernardo, Santo Afonso de Ligório, São Pedro Canísio, São Roberto Belarmino e outros, são unânimes em dizer que todas as graças que Deus concede aos homens, mesmo as conseguidas pela intercessão dos santos, chegam a nós pelas mãos de Maria. Por isso, ela é chamada de Medianeira de todas as graças, Advogada nossa. Como a grande graça que recebemos do Pai, foi Jesus, o nosso Salvador, e Ele veio por Maria, então, todas as demais graças vêm a nós também por ela.
Os santos são unânimes em afirmar que nenhuma intercessão diante de Deus é tão eficaz como a intercessão da Virgem Maria por nós. Além disso, sabemos que Deus concedeu a Ela o poder e a missão de esmagar a cabeça de satanás (Gn 3,15), que quer nos afastar de Deus pelo pecado. É a Virgem Santíssima quem nos protege de seus ataques malignos. Esta é uma forte razão para nos consagrarmos a Ela.

Recebendo a proteção de Maria

De modo especial ,consagrar a Ela uma criança, após o seu batismo, tem um significado muito especial, pois, pelo batismo, sabemos que Deus – pela morte e ressurreição de Cristo que a criança participa – é resgatada das mãos do maligno para pertencer agora a Deus, como filho, herdeira do céu, membro da Igreja, cuja Mãe é Maria.
Sem dúvida, a Virgem poderosa, nesta hora, recebe essa criança em seus braços inexpugnáveis e a guarda em sua proteção, cuidando de sua vida para que siga os caminhos de Deus. Não é sem razão que a Ladainha Lauretana a invoca como: Porta do Céu, Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos.
Por Prof. Felipe Aquino, via Canção Nova

Reflexão para o XXX Domingo do Tempo Comum- Marcos 10,46-52 ( Ano B)


O evangelho deste trigésimo domingo do tempo comum – Marcos 10,46-52 – apresenta a última etapa do caminho de Jesus com seus discípulos em direção à cidade de Jerusalém, onde acontecerão os eventos da sua paixão, morte e ressurreição. É sempre oportuno recordar que esse não é apenas um percurso físico-espacial mas, sobretudo, um programa catequético, teológico e espiritual, apresentado pelos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), no qual Jesus procura abrir os olhos dos discípulos a respeito da sua verdadeira identidade: ele não é um messias glorioso e forte, mas servidor e sofredor que, ao invés de restaurar o reino de Davi, propôs a instauração do Reino de Deus. Para isso, fez três anúncios explícitos da paixão, mas mesmo assim os discípulos continuavam sem compreender nem aceitar.

O episódio narrado no evangelho hoje é a cura de Bartimeu, um cego que mendigava às margens da estrada, na saída da cidade de Jericó. Esse relato se torna emblemático e decisivo para a catequese de Marcos e a vida dos discípulos e discípulas de Jesus. Mais do que uma crônica, é uma espécie de parábola, através da qual Jesus denuncia a situação dos seus discípulos, e Marcos atualiza essa denúncia para a sua comunidade: há uma cegueira generalizada entre os seguidores de Jesus quando buscam prestígio, poder, riquezas e privilégios, quando não aceitam que o Reino de Deus pertence aos pequenos, excluídos e marginalizados. Ora, durante o caminho os discípulos tinham feito proselitismo, alimentado rivalidades discutindo quem era o maior entre eles, e almejado lugares de honra, demonstrando, com isso, uma verdadeira cegueira ao que Jesus estava propondo e anunciando. Por isso, ao apresentar na reta final desse caminho, um cego gritando por ajuda, o evangelista denuncia a situação dos discípulos e da sua comunidade.

Olhemos com atenção para o texto: “Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho” (v. 46). Esse primeiro versículo traz muitas informações importantes; a primeira, é que Jesus se encontra a caminho, em movimento. O caminho é um lugar importante para uma comunidade itinerante como a de Jesus. Representa a exposição aos riscos e perigos, mas também é sinal de abertura ao encontro e ao diálogo com o diferente; acentua que, desde o princípio, a Igreja existe para estar sempre em saída. Um outro indicativo espacial importante presente no versículo é a cidade de Jericó. Situada a cerca de trinta quilômetros de Jerusalém, Jericó era a última parada do caminho para a cidade santa (Jerusalém), para quem partia da Galileia, como Jesus e seus discípulos. Jericó tem grande significado para a tradição bíblica; foi a primeira cidade conquistada por Josué após a entrada na terra prometida (cf. Js 6,1-14). No tempo de Jesus, essa cidade era estratégica; sendo passagem obrigatória para quem ia do norte para Jerusalém, milhares de peregrinos passavam por ela durante o ano, principalmente na época das grandes festas religiosas de Israel, como a páscoa, pentecostes e a festa das tendas; isso fomentava a economia, ao mesmo tempo em que facilitava a aglomeração de mendigos pedindo esmolas à beira da estrada, fenômeno muito comum nas proximidades dos santuários e centros de peregrinação, até os dias de hoje.

Além dos discípulos, também uma grande multidão acompanha Jesus. Além de admiradores, pessoas que tinham se encantado com Jesus ao longo do caminho, essa multidão era também, com muita probabilidade, composta por peregrinos em geral que já se dirigiam à Jerusalém para a festa da páscoa que se aproximava. Dentre tantos pedintes que, certamente, estavam à beira do caminho, o evangelista destaca um: o cego Bartimeu, filho de Timeu. Na verdade, Bartimeu é a forma hebraica de “filho de Timeu”, cujo significado é “filho da honra”. Esse é o único caso, no Evangelho segundo Marcos, em que um doente necessitado de cura é chamado pelo nome. A sua condição de cego lhe impede de ser integrado à comunidade, restando-lhe somente as margens da sociedade e a mendicância para a sobrevivência. Esse personagem se torna paradigma para o discipulado, por isso o evangelista lhe dá tanta ênfase. Era consciente de sua condição e alimentava a esperança de voltar a ver, por isso, “quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (v. 47). A fama de Jesus já tinha chegado à Jericó e alimentava a esperança dos humildes e marginalizados, como os cegos. Porém, ele ainda não era compreendido nem reconhecido como o Filho de Deus, mas apenas como o suposto messias nacionalista, filho de Davi. A cegueira dos discípulos, sobretudo, consistia exatamente nessa compreensão equivocada da identidade de Jesus. Ora, conceber Jesus como o filho de Davi é imaginá-lo guerreando, combatendo pela força para conquistar o trono e exercer o poder como os chefes deste mundo, algo totalmente incompatível com a mensagem de Jesus e sua proposta de Reino de Deus.

Imaginando que seguiam ao messias dravídico, as pessoas que acompanhavam Jesus, principalmente os discípulos, queriam monopolizá-lo, impedindo que outras pessoas se aproximassem dele, com medo de perder prestígio e privilégio quando fosse restaurado o reino de Israel. Os discípulos já tinham repreendido as crianças para que não se aproximassem, João tinha proibido a um homem desconhecido de agir em nome de Jesus e, agora, no episódio do cego, também o repreendem por querer aproximar-se de Jesus, suplicando a sua compaixão: “Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: ‘Filho de Davi, tem piedade de mim!”(v. 48). A atitude dos que repreendiam o cego é, muitas vezes, a postura das religiões em geral e, sobretudo, de muitos grupos cristãos: querer controlar a pessoa de Jesus, impedindo que ele seja conhecido e experimentado por todos, principalmente pelos mais necessitados. E Jesus não se deixa controlar por nenhuma religião ou grupo religioso; pelo contrário, ele mesmo faz questão que as pessoas banidas pela religião se aproximem dele, como mostra o texto: “Então Jesus parou e disse: “Chamai-o. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (v. 49). Jesus interrompe seu caminho quando vê a necessidade do próximo, o que seus discípulos não aceitavam; Ele chama e quer perto de si toda pessoa necessitada e excluída.

Diante do convite, “o cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus” (v. 50). A atitude do cego evidencia o entusiasmo e alegria de quem tem reacesa a esperança. O primeiro gesto, jogar o manto, significa abrir mão de tudo, é o “renunciar a si mesmo”, uma das exigências de Jesus para o seu seguimento. Jogando o manto, o cego renunciou a tudo. Além de ser o único sinal de dignidade que ainda lhe restava, era no manto que guardava as esmolas que ganhava; o encontro autêntico com Jesus depende da capacidade de renunciar a tudo o que pode causar impedimento, como o apego aos bens. A renúncia ao manto, tornou o cego uma pessoa livre, por isso, ele “deu um pulou”; além da alegria, esse gesto significa também a liberdade reconquistada. Com isso, o evangelista recorda e denuncia, implicitamente, com o gesto do cego, os dois contra-exemplos anteriores na narrativa: o homem rico que não foi capaz de deixar o que possuía para herdar a vida eterna (cf. Mc 10,17-30; evangelho do 28º domingo), e a ambição dos discípulos por lugares de honra (cf. Mc 10,35-41; evangelho do 29º domingo). O pulo do cego é um salto qualitativo na sua vida, marco do encontro transformador com Jesus, salto esse que os discípulos da primeira chamada ainda tinham dificuldade de fazer.

Mesmo conhecendo as necessidades do cego, “Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” (v. 51). A pergunta de Jesus visa evidenciar o itinerário do discipulado: a passagem da cegueira à visão. Inclusive, é a mesma pergunta feita aos dois filhos de Zebedeu (cf. Mc 10,36). Demonstra o interesse de Jesus pelo próximo. Ver era a necessidade de todos os que acompanhavam Jesus, mas somente o cego Bartimeu foi capaz de assumir. Ao invés da visão, os filhos de Zebedeu pediram privilégio e honra (cf. Mc 10,37). Bartimeu, pelo contrário, assume sua condição de pequenino do Reino, por isso é o verdadeiro “filho da honra”; no encontro pessoal com Jesus, falando face a face, deixa de lado a ideologia nacionalista e começa a reconhecer a verdadeira identidade de Jesus, por isso, já não o chama mais de “filho de Davi”, mas de “Mestre”; esse é mais um sinal da sua transformação pessoal, passagem das trevas à luz e, consequentemente, ao discipulado: “Jesus disse: ‘Vai, a tua fé te curou’. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (v. 52). De acordo com Jesus, o cego foi curado pela própria fé; não foram necessários sinais ou gestos extraordinários; bastou um encontro sincero. O encontro transformador gerou um novo discípulo para Jesus. A vista recuperada do cego, nesse relato, significa uma verdadeira exigência e o último apelo de Jesus aos discípulos, por isso, esse foi o último milagre narrado no Evangelho segundo Marcos.

Mais do que demonstração de força e poder, os milagres narrados nos evangelhos tem a função de mostrar a necessidade de transformação e mudança de mentalidade pelas quais todo ser humano deve passar para aderir à mensagem de Jesus. Para isso, é necessário, acima de tudo, abrir os olhos. É essa a necessidade principal das comunidades cristãs em todos os tempos: abrir os olhos para ver como Jesus e reconhecer sua presença nos mais necessitados e humildades, e discernir quais projetos, de fato, estão em sintonia com o Evangelho.


Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, 20 de outubro de 2018

Retiro Santas Missões...







“Católicos não se envolvem em política”. É mesmo? Então diga isto ao papa Francisco.

O Santo Padre é perfeitamente claro: "Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão". Mas de que política ele está falando?

De maneira lamentável (profundamente e assustadoramente lamentável), há muitos católicos que não entendem a diferença entre política e dinâmicas partidárias. Assim, tampouco entendem o significado da separação entre Igreja e Estado, confundindo-a com uma suposta (e absurda) separação total entre a Igreja e a política.
O termo “política” vem da palavra grega “pólis“, que significa “cidade“. Originalmente, a política é a “gestão da cidade”, da comunidade, da vida social, focada no bem comum. Essa gestão, obviamente, requer a participação de todos os cidadãos.
“Política” é, portanto, o exercício do poder de decisão: seja o poder pessoal de decisão sobre a própria vida, seja o poder de participar nas decisões da própria comunidade. Todo ser humano é um ser político neste sentido.
Historicamente, esse poder de decisão tem sido terceirizado a “representantes” dos cidadãos. Na assim chamada “democracia”,  esses representantes se organizam em partidos: trata-se de grupos que, em teoria, defendem propostas específicas de gestão da comunidade. Na prática, nem sempre é fácil saber qual é, exatamente, a proposta  específica de cada partido para promover o real bem-estar da população; é bastante comum que os partidos digam xis e façam ípsilon, ou se aliem de maneiras pouco coerentes com as propostas que supostamente defendem. A partir dessa confusa “gestão da comunidade” feita pelos representantes do povo, surge no próprio povo a ideia errônea de que “política” é apenas a dinâmica partidária (ou partidarista), com todos os seus famosos “bastidores” onde não param de explodir escândalos de corrupção ou, pelo menos, de incompetência.
A dinâmica partidária é apenas um aspecto da política: não é “a” política.
O católico tem, primeiramente, o dever de entender essa diferença para, em seguida, exercer o dever de fazer a sua parte na boa gestão da comunidade. O bem comum, afinal, deve ser promovido por todos – e não apenas esperado de braços cruzados. Daí a fazer “politicagem” há uma grande diferença. O católico não faz “politicagem”. O católico participa da política. E de maneira claramente fiel à boa nova de Jesus Cristo, que nos assegurou que somos todos filhos de Deus Pai e nos convidou a “amar-nos uns aos outros como Ele nos ama”. Pois bem, isto exige um comprometimento com o bem comum.
Durante uma audiência na Sala Paulo VI, no Vaticano, o papa Franciscofoi perguntado sobre como deve ser o nosso compromisso evangélico no tocante à sociedade e, por conseguinte, à vida política.
O Santo Padre respondeu com clareza:
Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum.
Os leigos cristãos devem trabalhar na política.
A política está muito suja, mas eu me pergunto: está suja por quê? Porque os cristãos não se envolveram nela com espírito evangélico? É uma pergunta que eu faço.
É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas eu, o que eu faço? Isto é um deverTrabalhar pelo bem comum é um dever do cristão.
Fonte: Aleteia 

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Reflexão para o XXVIII Domingo do Tempo Comum- Marcos 10,17-30 (Ano B)



Neste vigésimo oitavo domingo do tempo comum, continuamos a leitura do décimo capítulo do Evangelho segundo Marcos. O texto proposto pela liturgia – Marcos 10,17-30 – compreende mais uma etapa do caminho empreendido por Jesus e seus discípulos rumo à cidade de Jerusalém, que culminará com os eventos da sua paixão, morte e ressurreição. Esse caminho é muito mais teológico do que geográfico; é o aprofundamento da catequese e da formação dos discípulos. Por isso, nele, Jesus é interrompido diversas vezes, por várias categorias de interlocutores, que lhe fazem perguntas relevantes sobre a natureza e as condições para o discipulado, e sobre as características do Reino de Deus e os critérios para desse fazer parte. Jesus é questionado, tanto por personagens externos quanto pelos discípulos.

A extensão do Evangelho de hoje – treze versículos – dificulta uma análise versículo por versículo; por isso, buscaremos a mensagem principal do texto em seu conjunto, destacando apenas alguns versículos em particular. No domingo passado, Jesus tinha sido interrompido por alguns fariseus, que lhe interrogaram sobre a legitimidade do divórcio (cf. Mc 10,2-16); após respondê-los, Jesus aprofundou o ensinamento para os discípulos, em casa, que também lhe fizeram perguntas sobre tal tema. No texto de hoje, embora o tema seja diferente, o esquema é o mesmo: Jesus é questionado por um personagem externo, com quem interage e, em seguida, pelos próprios discípulos. É um texto comum aos três evangélicos sinóticos (cf. Mt ; Mc ; Lc ), sendo que a versão de Marcos é a mais rica, embora a de Mateus tenha se tornado mais conhecida.

O texto inicia afirmando que “Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (v. 17). Após uma pausa, o caminho foi retomado. É importante recordar que a estrada (ou o caminho) é um espaço privilegiado para o ensinamento, em uma comunidade itinerante como a de Jesus e seus discípulos. Além de expressar a carência de estruturas fixas, expressa também o aspecto dinâmico, aberto e missionário da comunidade. No caminho, Jesus e a comunidade estão expostos, qualquer pessoa pode interagir e questionar, como fez “alguém” que, veio correndo ao seu encontro ajoelhou-se diante dele. Esse personagem é totalmente desconhecido, anônimo. O texto revela se tratar de alguém muito necessitado de sentido para a vida e, de certo modo, reconhecedor de que Jesus é fonte de sentido. Essa necessidade e reconhecimento se expressam no seu gesto: ajoelhou-se diante de Jesus. Até então, somente um personagem tinha se ajoelhado aos pés de Jesus: um leproso, ao suplicar-lhe a cura (cf. Mc 1,40). Com isso, insinua o evangelista que a riqueza em excesso pode ser um mal tão grave quanto a pior das enfermidades, a lepra. A pergunta feita pelo homem, deixa claro que ele sentia necessidade de algo; ainda não era alguém realizado. A vida eterna, aqui, mais do que uma vida pós-morte, significa o sentido desta vida terrena. Quem encontra sentido para a vida aqui, eterniza a sua existência: essa vida se torna indestrutível, mesmo com a morte.

Conhecedor do Pai, Jesus responde que somente Ele é bom, e mais ninguém (cf. v. 18). Jesus não se deixa levar por elogios, e recorda o que era exigido pelo judaísmo para viver bem: “Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe” (v. 19). Para o judeu, o sentido da vida consistia na observância da lei. Jesus e o evangelista mostram que essa visão está superada; já não basta observar e cumprir os mandamentos, mas é necessário algo a mais. No entanto, é importante observar quais os mandamentos que Jesus recorda: aqueles que dizem respeito ao modo de relacionar-se com o próximo. O primeiro mandamento – amar a Deus sobre todas as coisas – nem sequer é mencionado por Jesus, porque ele compreende que se não há respeito à dignidade do próximo e o reconhecimento dos direitos humanos, o amor e o culto a Deus são falsos, não passa de demagogia. Não há culto agradável a Deus se o ser humano não é respeitado em sua condição e dignidade. O amor a Deus é incompatível com o ódio e com a violência para com o próximo.

Com a resposta do homem a Jesus – “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v. 20) – percebemos tratar-se já de uma pessoa madura, e não mais de um jovem, como aparece na versão de Mateus. Portanto, para as versões de Marcos e de Lucas é incorreto chamar o episódio do “jovem rico”. É importante observar a atitude de Jesus e a sua proposta: “Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (v. 21). Essa é a única vez que o Evangelho segundo Marcos afirma que Jesus amou uma pessoa em particular. É claro que Ele ama sempre, mas somente aqui o evangelista enfatizou; e amou olhando-o profundamente, olho no olho. O amor gera relações fraternas e sinceras. É amando que Jesus revela a incompletude do ser humano, ao dizer que faltava algo, uma coisa que, na verdade, era tudo: livrar-se do seu mal – equivalente à uma lepra – vender, dar aos pobres e segui-lo. Dizer “uma só coisa te falta”, é dizer que não falta uma coisa a mais, mas falta o que é essencial. A lógica do Reino contraria à lógica humana: o homem foi a Jesus para pedir, para ter, Jesus diz que ele deve dar; foi pedir sentido para a vida, Jesus pede para livrar-se do que estava lhe tirando esse sentido: a riqueza, a posse dos bens e o apego a esses. Isso mostra a insuficiência e o superamento da ética dos mandamentos.

Como era muito rico, a reação do homem foi de tristeza, saiu abatido (cf. v. 22), porque não estava preparado para assimilar a lógica do Reino. Do confronto com um personagem externo, Jesus se volta para o interno da comunidade (cf. v. 23), ou seja, para os discípulos que também necessitavam assimilar, ainda mais, a lógica do Reino: “Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: ‘Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus!’” (v. 24). Da admiração dos discípulos, Jesus se aproveita para aprofundar a catequese. A insistência sobre um mesmo argumento, revela a sua importância. Entrar no Reino de Deus é difícil, realmente, porque não há como critérios méritos pessoais, mas uma adesão incondicional; é mais difícil para os ricos (v. 23), mas também não é fácil para ninguém (v. 24). Também os discípulos, ao longo do caminho, mostravam dificuldades em aderir plenamente, à medida em que alimentavam expectativas de poder e praticavam atos que distorciam o que Jesus lhes ensinava: praticavam proselitismo (cf. Mc 9,38-40), alimentavam rivalidades entre si (cf. Mc 9,33-37), impediam as crianças de se aproximarem de Jesus (cf. Mc 10,13-16), desejavam sucesso (cf. Mc 10,35-40), etc.

Com um provérbio hiperbólico, Jesus enfatiza a dificuldade para os ricos assimilarem a lógica do Reino: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (v. 25). Muitas tentativas de explicação já surgiram para suavizar a dureza dessa afirmação: algumas afirmavam que o “camelo”, aqui, é um tipo de corda grossa, outras que o “buraco da agulha” era uma porta estreita num muro de Jerusalém. Aceitar e alimentar tais interpretações é ignorar a radicalidade do Evangelho. Se trata de uma hipérbole, algo bem característico de Jesus e do evangelista Marcos. O camelo é mesmo o animal, e o buraco é de uma agulha normal. É claro que, com uma afirmação dessa, os discípulos ficaram ainda mais perplexos (cf. v. 26). Por isso, Jesus os tranquiliza, dizendo:“Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (v. 27). De fato, a história da salvação é marcada por diversos acontecimentos impossíveis, aparentemente, que se tornaram possíveis com a graça de Deus: a gravidez de Sara, já estéril (cf. Gn 18,14), a gravidez de Isabel, também estéril (cf. Lc 1,37) e de Maria, virgem (cf. Lc 1,37). A dificuldade da salvação para os ricos consiste na dificuldade que esses tem de assimilar a lógica do Reino, abrindo mão do que possuem e distribuindo aos mais necessitados; isso é difícil sim, mas não impossível.

Mais uma vez, Pedro fala em nome do grupo, inquieto com as exigências do Reino e com as renúncias que já tinha feito: “Pedro então começou a dizer-lhe: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos’” (v. 28). Parece oportunismo dos discípulos, expresso nas palavras de Pedro. Jesus sabia e conhecia o que eles já tinham deixado. Porém, responde de modo solene, afim de encorajá-los a continuar no seguimento: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no futuro, a vida eterna” (vv. 29-30). À medida em que as exigências aumentavam, havia na comunidade uma tendência ao desânimo e, até, à desistência. Jesus não promete prêmios, nem recompensa, mas garante sentido para a existência. Não obstante as perseguições, para os seguidores e seguidoras de Jesus é assegurada uma vida fraterna, uma vida comunitária real, desde que aceitem a lógica do Reino, com as renúncias devidas. Aqui, Jesus faz um convite à confiança na providência: quem deixa tudo por causa do Evangelho, não sente falta de nada. Por isso, Ele repete as mesmas coisas que devem ser deixadas como as mesmas que são conquistadas.

Para quem entrar na dinâmica do Reino, tudo é ressignificado. “Casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos”, como recompensa, não são posses, mas sinais de uma comunidade unida e perseverante, e frutos da partilha. É um ideal de vida que renasce. A comunidade que vive, de fato, o espírito da partilha, tem tudo o que é necessário, sem supérfluos, e se sustenta em relações fraternas. Porém, só recebe quem, antes, dá, quem deixa para trás o que tem e se aventura na dinâmica do Reino para herdar, com perseguição, o que dá sentido à vida. Quem aceita essa dinâmica, tem a sua vida eternizada.

Pe. Francisco Cornelio F. Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

Encerramento da festa de Nossa Senhora de Fátima.