sábado, 10 de novembro de 2018

Um décimo do mundo vive em extrema pobreza


Por incrível que pareça, é a menor taxa já registrada

Em um nível global, uma em cada dez pessoas vive em extrema pobreza. O dado emerge do novo relatório do Banco Mundial sobre a pobreza mundial, publicado em 17 de outubro (Relatório de Pobreza e Prosperidade Compartilhada de 2018: Montando o quebra-cabeça da pobreza).
Os dados coletados pelo órgão de Washington D.C. revelam que, em 2015 (o último ano para o qual dados confiáveis ​​estão disponíveis), 10% da população mundial vivia abaixo do limiar da pobreza extrema. Isso significa que eles foram forçados a viver com menos de US$ 1,90 por dia.
Jim Yong Kim, presidente do instituto, apontou em um comunicado de imprensa que esta é a menor taxa já registrada na história.
Em outras palavras, de 1990 a 2015, a pobreza extrema caiu de 36% para 10% globalmente – uma taxa média de um ponto percentual em uma base anual, mesmo se uma desaceleração foi registrada no período de dois anos – 2013-2015.
De fato, de 2013 a 2015 a queda foi de apenas 0,6% em uma base anual e de acordo com as previsões do Banco Mundial, a pobreza extrema cairá no período 2015-2018 em um ritmo ainda mais lento, com uma taxa de menos de 0,5% ao ano até atingir 8,6%.
Em números concretos, o declínio implica que 735,9 milhões de pessoas em 2015 viviam em extrema pobreza, em comparação com 804,2 milhões em 2013 (ou 11,2% da população mundial). Isso também significa que, no período de dois anos de 2013-2015, cerca de 68 milhões de habitantes do planeta conseguiram se erguer da condição de extrema pobreza, mais ou menos igual à população de países como a Tailândia ou o Reino Unido.
Diferenças Regionais

Em quase todas as regiões do mundo, a pobreza extrema diminuiu, embora de forma não homogênea.
O maior declínio ocorreu no sul da Ásia, que inclui dois gigantes demográficos: a Índia (mais de 1,3 bilhão de habitantes) e Bangladesh (164,7 milhões). Na macrorregião, o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia caiu no período de 2013-2015 em 58,1 milhões, de 274,5 milhões (16,2%) para 216,4 (12,4%).
No mesmo período, 25,9 milhões de pessoas recuperaram-se da extrema pobreza na macrorregião do Leste Asiático e Pacífico, passando de 73,1 milhões (3,6%) para 47,2 milhões (2,3%).
A diminuição na América Latina e no Caribe foi mais modesta, onde 2,1 milhões de habitantes conseguiram escapar da pobreza extrema, que ainda afetou 25,9 milhões de pessoas em 2015 (comparado a 28 milhões em 2013).
Paradoxal é a situação na África ao sul do Saara, onde a taxa de pobreza extrema registrou uma queda de 1,4% de 2013 para 2015, de 42,5% para 41,1%. Mas, apesar disso, o número de pessoas que vivem em condições extremas aumentou na região em 8,3 milhões no período 2013-2015, ou de 405,1 milhões para 413,3 milhões, de acordo com o relatório.
Dos 27 países do mundo com as maiores taxas de extrema pobreza, 26 são sub-saarianos. Uma das explicações para isso é o rápido crescimento demográfico no continente.
A situação na Nigéria é emblemática. Hoje tem cerca de 191 milhões de habitantes e é o país mais populoso de todo o continente e o sétimo do mundo.
De acordo com uma estimativa fornecida pelas Nações Unidas, em 2050 a população nigeriana ultrapassará a dos Estados Unidos e se tornará o terceiro país mais populoso do planeta, depois da China e da Índia.
A Nigéria está prestes a se tornar (alguns dizem que já é) o país do mundo com o maior número de habitantes em extrema pobreza; isso é sugerido pelas projeções do Banco Mundial.
Pelo menos até 2015, foi a Índia que liderou este ranking nada invejável: o enorme país abrigava mais de 170 milhões de pessoas abaixo do limite de US$ 1,90 por dia – ou seja, quase um quarto do número total de pessoas extremamente pobres em todo o mundo.
O impacto da guerra e instabilidade política

O relatório do Banco Mundial também esclarece o impacto de guerras e situações de instabilidade política. Isso é mostrado, em particular, pela situação no Oriente Médio e na região do norte da África. Na macrorregião, a taxa de pobreza extrema subiu de 2,6% em 2013 para 5% em 2015, um aumento de 2,4% – quase o dobro.
Em números concretos, isso significa que o número de pessoas que precisam sobreviver com menos de US$ 1,90 por dia saltou na região de 9,5 milhões para 18,6 milhões de pessoas, um aumento de 8,1 milhões.
A situação no Oriente Médio e na região do norte da África nos lembra – adverte o Banco Mundial – que os progressos alcançados no passado “não podem ser tomados como garantidos”. Estes enormes aumentos, em nítido contraste com outras regiões, são causados ​​pelo conflito na Síria e pela guerra civil no Iêmen.
Neste último país, localizado na península arábica, a violência levou à pior crise humanitária criada pelo homem no mundo hoje, que afeta milhões de pessoas – escreve o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). Por outro lado, a crise síria causou cerca de 6,7 milhões de deslocados internos e mais de 5 milhões de refugiados.
Isto também é verdade para a África Subsaariana, que em 2015 abrigava mais da metade das pessoas que vivem em extrema pobreza: 413 milhões de um total de 736 milhões. Além disso, mais da metade (54%) das pessoas nos chamados “ambientes frágeis e com áreas de conflito” viviam na África no sul do Saara em 2015.
Enquanto em 2015 a taxa de pobreza em 35 países reconhecidos como frágeis e com áreas de conflito era de 35,9%, ou seja, um aumento de 1,5% em relação a 2011 (34,4%), no mesmo ano quase um quarto (23%) de todos os pobres vivia nessa categoria de nações. Segundo o Banco Mundial, a pobreza extrema está cada vez mais associada à fragilidade institucional e aos conflitos.
Rural
A pobreza extrema também é um fenômeno “desproporcionalmente rural”, no sentido de que mais de três quartos dos pobres do planeta vivem em áreas rurais, sugere o relatório.
É também um fenômeno feminino: globalmente 104 mulheres por 100 homens vivem em agregados familiares pobres, uma proporção que aumenta para 109 mulheres por 100 homens no sul da Ásia, observa o texto, que acrescenta que as crianças correm duas vezes mais risco de viver em famílias pobres. O relatório do Banco Mundial também relata que, em 2015, mais de 85% dos pobres viviam em duas regiões do mundo: a África Subsaariana e o sul da Ásia.
Os outros 15%, cerca de 106 milhões de pessoas pobres, viviam nas outras quatro regiões examinadas pelo relatório. Enquanto em 84 dos 164 países monitorados, a taxa de pobreza caiu abaixo de 3% hoje, é provável que na África Subsaariana ela permaneça na casa dos dois dígitos até 2030, ano em que a comunidade internacional deve alcançar as metas de desenvolvimento sustentável estabelecidas pelas Nações Unidas, incluindo a “pobreza zero”.
Deve ser lembrado que na África ao sul do Saara, 84,5% da população vive com menos de US$ 5,50 por dia, o que é mais ou menos o preço pago em Nova York por um café com leite no Starbucks, como Kate Gibson observa na CBS News.
Abaixo desse limiar, considerando o limiar da pobreza em países de renda média-alta, vive quase a metade (cerca de 46%) da população mundial, ou 3,4 bilhões, como declarado em um comunicado de imprensa do Banco Mundial.
Pouco mais de um quarto (26,2%), ou 1,9 bilhão de pessoas, vive com menos de US$ 3,20 por dia – a linha da pobreza em países de renda média-baixa, lembra o texto. O caminho para alcançar as metas estabelecidas pela ONU, portanto, apresenta-se como ainda muito difícil.

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