segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O mal dos eletrônicos no desenvolvimento dos filhos

O uso dos eletrônicos precisa ser administrado

Sabemos o quanto a tecnologia nos beneficia. Hoje, no entanto, preciso falar sobre questões alarmantes. O uso excessivo dos eletrônicos pode viciar as pessoas, causando danos ao cérebro, similares aos de drogas como cocaína e álcool.

Como identificar os sintomas da dependência?

Se o seu filho prefere ficar no tablet em uma festa, reuniões com amigos ou familiares, sinal vermelho! Uma das consequências da dependência é a diminuição ou piora do contato social com amigos e familiares. Costumam dizer que todos são chatos, ou melhor, que tudo é chato; mal cumprimentam as pessoas, demonstrando descaso, irritação e mal humor.
Outro sintoma é a falta de interesse em outras atividades. Conheço um casal que levou os filhos para a Disney e só lá perceberam o quanto eles estavam viciados! Não havia neles alegria ou entusiasmo. Tudo, como eles diziam, era “normal”. E a ansiedade de voltarem para o hotel ficou evidente. Para quê? Para continuarem jogando. Os jogos eletrônicos fazem uma “cócega” no cérebro, e nada, além disso, causa o mesmo prazer.
Ficou inconformado com isso? É assim com os outros vícios também. Como entender, por exemplo, alguém trocar a família para estar no bar? Ou trocar uma cama quentinha para estar na cracolândia? A dependência acarreta mudanças no cérebro, elevando a dopamina (neurotransmissor associado à experiência de prazer), fazendo com que o dependente queira sentir essa sensação o tempo todo.
Assim como as outras drogas, quando o dependente fica abstinente, manifesta sintomas muito desagradáveis como irritabilidade, ansiedade, alterações de humor e alterações de comportamento, podendo tornar-se manipulador, com o intuito de estar próximo de seu objeto de dependência novamente. Em casos extremos, podem chegar a fortes explosões, agredindo quem lhe impeça de usar o eletrônico, por exemplo.

Cortar o mal pela raiz

Quanto à manipulação, tenho o exemplo de uma mãe e seu filho de quatro anos, muito inteligente, sensível e amoroso: “Meu filho baixou um joguinho no celular e voltava da escola jogando. Percebi que bastaram 15 dias para ele estar viciado naquele jogo. Meu marido fez uma pequena viagem e levou com ele o celular. Ao entrar no carro, depois da escola, a primeira pergunta que ele fazia era: ‘Quando o papai vai voltar?’. Era uma ansiedade sem tamanho! Só quando o pai chegou, vi que o desespero era para pegar o celular dele, e o abraço foi apenas educado. Dando-me conta disto, proibi-o imediatamente de jogar. Dois dias se passaram e, enquanto voltávamos da escola, meu filho disse inusitadamente: ‘Mamãe, eu te amo tanto!’. Respondi, mas a intuição de mãe fez com que eu olhasse pelo retrovisor mais atentamente. Ele pegou o celular escondido de mim, e estava apenas tentando me enganar”.
Sabiamente, essa mãe percebeu o problema e cortou o mal pela raiz. Seu filho pode jogar de vez em quando, uma ou duas vezes na semana, por uns quarenta minutos apenas. A OMS (Organização Mundial da Saúde) orienta que o tempo máximo em eletrônicos deve ser de duas horas por dia. Eu, como psicóloga e mãe, oriento que as crianças não podem jogar todos os dias, mesmo que seja por meia hora. Radicalismo de minha parte? Ora, os estudos científicos constataram que o vício em eletrônicos é similar ao alcoolismo. Como você julgaria uma pessoa que, depois do trabalho, todos os dias passasse no bar e ficasse bebendo por meia hora? Não diríamos que ele é alcoólatra? Entenderam a gravidade?
Algumas crianças e adolescentes têm usado os eletrônicos para fugir de problemas (muitas vezes, familiares) ou aliviar sentimentos de culpa, impotência, depressão e ansiedade. O desempenho escolar também cai, mas não a ponto de reprovação na maioria dos casos, pois eles sabem que, se ficarem em recuperação ou reprovarem, provavelmente, serão punidos com o risco de ficarem sem o eletrônico. Mentir fará parte do jogo, escondendo dos pais o tempo que ficam nos eletrônicos versus o tempo que ficam estudando.
Na Inglaterra, o medo de ficar sem celular já tem nome: “nomofobia” (no + mobile + fobia). Um estudo científico comprovou que a nomofobia gera angústia, falta de interesse em outras coisas, mudanças comportamentais, isolamento entre outros.

Tecnologia como babá

Os pais são financiadores da dependência, com tablets, celulares e jogos de última geração. Há pais que usam a tecnologia como uma babá. Outro dia, nas férias, eu estava na sala de espera da pediatra de meu filho, onde havia um menino muito pequeno, acompanhado de sua mãe, totalmente vidrado no tablet. Sem me identificar como psicóloga, mas apenas como mãe, puxei assunto (como quem não quer nada) sobre o perigo desses jogos para os nossos filhos. Ela perecia estar muito atenta à tudo o que eu lhe dizia, parecendo estar conscientizando-se da gravidade, o que me deixou feliz. Mas, no final, vejam o que ela disse: “Se eu tirar os jogos, não sei o que vou fazer com ele nas férias”.
Infelizmente, ela não sabe ser mãe. Seu filho é dependente da “droga”, e eu ousaria dizer que a mãe é codependente. É assim com o álcool também. Essa mãe precisa ser ajudada da mesma forma que familiares de viciados em outras drogas. Mal sabe ela que esse vício está interferindo diretamente no desenvolvimento emocional, podendo causar sérios transtornos na fase adulta de seu filho.
O Hospital das Clínicas de São Paulo tem tratado a dependência em tecnologia de forma similar ao tratamento de outros vícios, dando suporte emocional para os familiares, com reuniões semanais em grupo, tratamento psiquiátrico, sendo que, nos casos mais graves, é necessário também medicação.
Fonte: Canção Nova

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