terça-feira, 31 de julho de 2018

Legalização do aborto livre no STF: bispos brasileiros convidam à resistência

Igreja reforça posição "em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural"

A legalização do aborto livre até a 12ª semana de gestação volta à pauta nacional na audiência pública agendada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), para estes próximos dias 3 e 6 de agosto, quando será debatida a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442.
Segundo essa arguição, a criminalização do aborto seria uma “afronta” à dignidade da pessoa humana, à cidadania, à não discriminação, à inviolabilidade da vida (!), à liberdade, à igualdade, à proibição de tortura ou tratamento desumano e degradante, à saúde, ao planejamento familiar das mulheres e aos assim chamados “direitos sexuais e reprodutivos”. É particularmente chamativo que os abortistas considerem que proibir o aborto seja um ataque à inviolabilidade da vida, de modo, que pela sua “lógica”, exterminar um bebê em gestação seria garantir essa inviolabilidade. Conclua-se acerca de racionalidade e coerência.
A Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reafirma neste atual contexto a firme e clara posição da Igreja “em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural”, condenando, por conseguinte, “todas e quaisquer iniciativas que pretendam legalizar o aborto no Brasil”. Estas afirmações já foram reiteradas pela presidência da CNBB na Nota Oficial “Pela vida, contra o aborto”, de 11 de abril de 2017.
A Audiência Pública será realizada no Supremo Tribunal Federal  nos dias 3 (sexta-feira) e 6 de agosto (segunda-feira), das 8h40 às 12h50 e das 14h30 às 18h50.
A CNBB apresentará a sua posição no dia 6 de agosto, às 9h10, por meio de dom Ricardo Hoerpers, bispo da diocese de Rio Grande (RS), e do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco (SP).

Confira a nota na íntegra:

Brasília – DF, 25 de julho de 2018
ABORTO E DEMOCRACIA
Um perigo iminente
Nos últimos anos, apresentaram-se diversas iniciativas que visavam à legalização do aborto no ordenamento jurídico brasileiro.
Em todas essas ocasiões, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fiel à sua missão evangelizadora, reiterou a “sua posição em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural”, condenando, “assim, todas e quaisquer iniciativas que pretendam legalizar o aborto no Brasil” (CNBB, Nota Pela vida, contra o aborto, 11 de abril de 2017).
Unindo sua voz à sensibilidade do povo brasileiro, maciçamente contrário a qualquer forma de legalização do aborto, a Igreja sempre assegurou que “o respeito à vida e à dignidade das mulheres deve ser promovido, para superar a violência e a discriminação por elas sofridas”, lembrando que “urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil” (Ibidem).
As propostas de legalização do aborto sempre foram debatidas democraticamente no parlamento brasileiro e, após ampla discussão social, sempre foram firmemente rechaçadas pela população e por seus representantes.
A desaprovação ao aborto, no Brasil, não parou de crescer nos últimos anos, mas, não obstante, assistimos atualmente uma tentativa de legalização do aborto que burla todas as regras da democracia: quer-se mudar a lei mediante o poder judiciário.
A ADPF 442
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 442, solicita ao Supremo Tribunal Federal – STF a supressão dos artigos 124 a 126 do Código Penal, que tipificam o crime de aborto, alegando a sua inconstitucionalidade. O argumento, em si, é absurdo, pois se trata de uma lei federal de 1940, cuja constitucionalidade jamais foi questionada.
O STF convocou uma audiência pública para a discussão do tema, a realizar-se nos dias 3 e 6 de agosto de 2018. A maior parte dos expositores representa grupos ligados à defesa da legalização do aborto.
A rigor, o STF não poderia dar andamento à ADPF, pois não existe nenhuma controvérsia em seu entendimento. Em outras palavras, em si, a ADPF 442 transcende o problema concreto do aborto e ameaça os alicerces da democracia brasileira, que reserva a cada um dos poderes da República uma competência muito bem delineada, cujo equilíbrio é uma garantia contra qualquer espécie de deterioração que degenerasse em algum tipo de ditadura de um poder sobre os outros.
O momento exige atenção de todas as pessoas que defendem a vida humana. O poder legislativo precisa posicionar-se inequivocamente, solicitando de modo firme a garantia de suas prerrogativas constitucionais. Todos os debates legislativos precisam ser realizados no parlamento, lugar da consolidação de direitos e espaço em que o próprio povo, através dos seus representantes, outorga leis a si mesmo, assegurando a sua liberdade enquanto nação soberana. Ao poder judiciário cabe fazer-se cumprir as leis, ao poder legislativo, emaná-las.
O aborto da democracia
“Escolhe, pois, a vida”. O eloquente preceito que recebemos da Escritura, “escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19), agora, reveste-se de importância decisiva: precisamos garantir o direito à vida nascente e, fazendo-o, defender a vida de nossa democracia brasileira, contra todo e qualquer abuso de poder que, ao fim e ao cabo, constituir-se-ia numa espécie de “aborto” da democracia. As democracias modernas foram concebidas como formas de oposição aos absolutismos de qualquer gênero: pertence à sua natureza que nenhum poder seja absoluto e irregulável. Por isso, é imensamente desejável que, diante destas ameaças hodiernas, encontremos modos de conter qualquer tipo de exacerbação do poder. Em sua evangélica opção preferencial pelos pobres, a Igreja vem em socorro dos mais desprotegidos de todos os desprotegidos: os nascituros que, indefesos, correm o risco do desamparo da lei e da consequente anistia para todos os promotores desta que São João Paulo II chamava de cultura da morte.
Sugestões práticas
O que fazer? Diante da gravidade da situação, pedimos a todas as nossas comunidades uma mobilização em favor da vida, que se poderia dar em três gestos concretos:
Uma vigília de oração, organizada pela Pastoral Familiar local, tendo como intenção a defesa da vida dos nascituros, podendo utilizar como material de apoio os encontros do subsídio Hora da Vida 2018, sobretudo a Celebração da Vida, vide página 41. Ao final da vigília, os participantes poderiam elaborar uma breve ata e endereçá-la à Presidência do Congresso Nacional, solicitando aos legisladores que façam valer suas prerrogativas constitucionais: presidencia@camara.leg.br, com cópia para a Comissão Episcopal para a Vida e a Família: vidafamilia@cnbb.org.br.
Nas Missas do último domingo de julho, os padres poderiam comentar brevemente a situação, esclarecendo o povo fiel acerca do assunto e reservando uma das preces da Oração da Assembleia para rezar pelos nascituros. A coordenação da Pastoral Familiar poderia encarregar-se de compor o texto da oração e também de dirigir umas palavras ao povo.
Incentivamos, por fim, aos fiéis leigos, que procurem seus deputados para esclarecê-los sobre este problema. Cabe, de fato, ao Congresso Nacional colocar limites a toda e qualquer espécie de ativismo judiciário.
Invocamos sobre todo o nosso país a proteção de Nossa Senhora Aparecida, em cuja festa se comemora juntamente o dia das crianças, para que ela abençoe a todos, especialmente as mães e os nascituros.

Dom João Bosco B. Sousa, OFM
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família
Bispo Diocesano de Osasco – SP

Fonte: Aleteia

Reflexão para o XVII Domingo do Tempo Comum- João 6,1-15 ( Ano B)



Neste décimo sétimo domingo do tempo comum, interrompemos, mais uma vez, a leitura do Evangelho segundo Marcos, para uma sequência de cinco domingos nos quais leremos o capítulo sexto do Evangelho segundo João. Para hoje, especificamente, a liturgia contempla os primeiros quinze versículos: Jo 6,1-15, relato do episódio chamado popularmente de “multiplicação dos pães”, embora esse não seja o título mais apropriado. Considerando a extensão do texto, não comentaremos cada versículo, mas procuraremos colher a mensagem geral de todo o texto, embora seja necessário dar maior atenção a alguns versículos específicos.

Antes de contextualizar o texto no conjunto do Quarto Evangelho, é importante recordar que, no domingo passado, ao ler e refletir o texto do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 6,30-34), destacava-se a reação e o sentimento de Jesus diante da multidão que o seguia: “teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34). Como não bastava o ensinamento, a esse seguiu-se o gesto da partilha dos pães (cf. Mc 6,35-42), como resposta à situação de abandono e sofrimento vividos pela multidão. Jesus sabia muito bem associar ensinamento e práxis, como deve fazer a comunidade cristã em todos os tempos. Os sentimentos de Jesus eram acompanhados de respostas concretas aos sofrimentos das pessoas.  

O episódio da “condivisão dos pães”, expressão mais apropriada que multiplicação, é o único milagre ou sinal de Jesus narrado pelos quatro Evangelhos, com seis versões (Mateus e Marcos narram duas vezes), sendo que a versão joanina é a mais rica em detalhes e, consequentemente, em teologia. Além da riqueza ímpar do relato, João usa o milagre como introdução para uma profunda catequese eucarística, através do longo discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum, se auto apresentando como pão da vida e alimento perene para a humanidade, como veremos nos próximos domingos. No conjunto dos sete sinais (ou milagres) operados por Jesus no Evangelho segundo João, esse é o quarto, assumindo uma centralidade tanto literária quanto teológica.

O texto diz que “Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades” (v. 1). Embora fosse apenas um lago, o evangelista se refere como mar para chamar a atenção do leitor e evocar uma cena de libertação. De fato, passar de uma margem a outra do mar é sempre uma recordação do Êxodo, evento fundante da história de Israel, embora seus frutos já não fossem mais experimentados, ou seja, o povo não vivia mais conforme a liberdade sonhada por Deus; tinha voltado a ser escravo do sistema dominante religioso e político e de suas próprias concepções equivocadas de Deus. Por isso, a mensagem de Jesus é um convite à libertação porque o seu povo tinha se tornado escravo novamente.

O destino do novo êxodo não é uma terra distante nem uma vida no além: é o Reino de Deus, um sistema baseado na partilha, solidariedade, amor, justiça e dignidade. Para ingressar nesse, não são necessárias longas caminhadas, mas somente a conversão, ou seja, a mudança de mentalidade. Mesmo na posse da terra, Israel deixou de ser livre ao reproduzir o sistema do antigo opressor. Por isso, o que Jesus propõe é uma mudança de mentalidade e consciência, ou seja, uma mudança interior que, no entanto, conduz a novas práticas, como a partilha, foco central do Evangelho de hoje. Porém, reduzir esse trecho do Quarto Evangelho a uma mera comparação com o antigo êxodo é um grande reducionismo.

Jesus chamava a atenção das pessoas e atraía a multidão em seu seguimento“porque viam os sinais que ele operava a favor dos doentes” (v. 2). Ao mencionar os doentes, o evangelista enfatiza a prática de Jesus em favor dos mais necessitados, pobres e vulneráveis. Os doentes representam as categorias de todas as pessoas excluídas, sofredoras e abandonadas, de quem Jesus sentiu compaixão (cf. Mc 6,34). As multidões se admiram com Jesus, por isso o seguem. Ora, era difícil alguém se preocupar com os marginalizados da sociedade, principalmente os doentes; naquela época, a doença era considerada como castigo pelos pecados, o que tornava o doente uma pessoa desprezível. Como Jesus priorizava as pessoas que o sistema descartava, muitos o viam como sinal de esperança e de mudança, por isso, muita gente o seguia.

As multidões seguiam Jesus enquanto “estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus” (v. 4). Com isso, o evangelista enfatiza Jesus como único sinal autêntico de libertação e alternativa para aquele povo abandonado como ovelha sem pastor. A páscoa, como “festa dos judeus”, tinha sido transformada em instrumento de exploração, dominação e manutenção da ordem vigente. Mesmo sutilmente, o evangelista apresenta uma grande ironia: aquela festa celebrada em Jerusalém já não era Páscoa de Iahweh, mas “festa dos judeus” (em grego: h` e`orth. tw/n VIoudai,wn – hé heorté ton Iudaion). Quando João usa o termo judeus, não se refere a todo o povo, mas às classes e grupos dirigentes, principalmente aos sacerdotes do templo que, de fato, tinham desfigurado o rosto verdadeiro de Deus. Portanto, Jesus é a alternativa de Deus à religião opressora do templo, e os primeiros a perceber isso são as pessoas mais simples e humildes, os pobres e excluídos que o seguem, quem tinha sido abandonado pelos maus pastores de Israel.

A multidão que segue Jesus é um povo com necessidades concretas que não podem ser ignoradas. A primeira necessidade é o alimento. Jesus se sente responsável, junto com seus discípulos, e transmite essa responsabilidade para a sua comunidade ao longo da história. Aquele seria um bom momento para medir o aprendizado e a maturidade dos seus discípulos, por isso, provocou Filipe, mesmo já sabendo o que iria fazer: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” (v. 5). A resposta de Filipe é baseada em cálculos. Ele simplesmente apela para o campo da economia: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um” (v. 8). A tentação de Filipe é de reproduzir na comunidade do Reino as relações do sistema: compra e venda, enquanto a dinâmica da comunidade deve ser outra: a partilha.

André, outro discípulo, parece começar a compreender a lógica de Jesus, embora ainda não tenha muita convicção: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (v. 9). Enquanto Filipe pensou em solucionar o problema com base na economia, André olhou para a própria comunidade, percebendo o que já tinha, mesmo reconhecendo não ser suficiente. Aqui está a transição para a proposta de Jesus, a lógica do Reino: a solução dos problemas da comunidade deve ser buscada em seu interior. 

Os cristãos não podem esperar que o mundo ofereça condições para o Reino de Deus se estabelecer, mas são eles mesmos quem tem que começar a viver os valores do Reino, mesmo em condições desfavoráveis. Embora considerando insuficiente, a observação de André é muito importante: “um menino tem cinco pães de cevada e dois peixes”. Um menino era uma figura muito pouco representativa na época, sem nenhum valor reconhecido, uma vez que não produzia. Para enfatizar ainda mais esse aspecto, o evangelista emprega o diminutivo: um menininho (em grego: παιδαριον –  paidárion). O pão de cevada era o alimento dos pobres, enquanto os ricos comiam o pão de trigo. Os dois peixes servem de complemento numérico para chegar a sete, número que evoca perfeição e totalidade. Mais tarde, a comunidade cristã adotou também o peixe como símbolo eucarístico.

O menininho com cinco pães e dois peixes é a imagem do discípulo e da comunidade cristã. Antes de tudo, para entrar na lógica do Reino é necessário fazer-se e reconhecer-se pequeno. Reino de Deus e grandeza são incompatíveis. Não importa a quantidade daquilo que se tem, mas a disposição de colocar a serviço do próximo. As soluções para os problemas da comunidade devem vir de dentro. Essa é saciada quando o pouco que tem é colocado em comum, quando cada um considera aquilo que tem como dom de Deus e, por isso, destina à partilha. O menininho não mostrou resistências, entregou o que tinha e “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes” (v. 11). André lamentou que somente cinco pães e dois peixes não seriam suficientes. Jesus foi mais adiante: “tomou os pães e deu graças”, ou seja, agradeceu! O evangelista usa aqui o verbo gregoευχαριστεω (eukaristêo), do qual provém a palavra Eucaristia, cujo significado é agradecimento/rendimento de graças. Ao invés de lamentar-se, Jesus agradeceu pelo pouco que tinha e, daí, veio a abundância.

Muitos pormenores e dúvidas ficam, certamente, nas entrelinhas do texto, o que não ofusca o grande ensinamento de Jesus para a sua comunidade. André observou que um menininho estava com cinco pães e dois peixes, mas não diz que era somente aquele. O importante é que alguém teve de coragem começar a colocar à disposição dos outros o pouco que tinha, e Jesus agradeceu por aquilo. No final, todos ficaram satisfeitos. A solução veio de dentro da comunidade. A abundância é gerada quando ninguém considera somente seu o que possui, mas oferece, como dom, às necessidades do próximo. E a primeira necessidade do ser humano é o alimento, o pão de cada dia. Tendo ficado todos satisfeitos, percebendo o que ainda tinha sobrado, “Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” Recolheram os pedações e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido” (v. 12-13). O número doze simboliza a totalidade do povo, a nação inteira de Israel, reconfigurada na comunidade cristã pelos doze apóstolos. A quantidade recolhida, doze cestos, significa, portanto, que quando a partilha é praticada, tem alimento para todos e todas. Essa não deve ser um ato isolado, mas uma prática constante na comunidade.

Assim como todos os sinais cumpridos por Jesus no Evangelho segundo João visam a manifestação da glória de Deus e o despertar da fé no Verbo Encarnado, também o sinal da condivisão dos pães despertou reação e reconhecimento: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo” (v. 14). Porém, essa é uma imagem insuficiente para descrever Jesus. Vê-lo como simples profeta é colocá-lo em continuidade com a antiga aliança e, portanto, negar a insuficiência e decadência daquela aliança que ele denuncia com os sinais cumpridos. Inclusive, a continuidade dos sinais ao longo do livro, mostra a necessidade de Jesus continuar revelando sua novidade messiânica e a superação da antiga aliança.

A prova definitiva da incompreensão do povo em relação a Jesus está no último versículo: “Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte” (v. 15). Enquanto Jesus queria ver o povo livre e emancipado, ensinando inclusive a encontrar a solução para os problemas dentro da própria comunidade, o povo faz o contrário: ao invés de viver a liberdade, quer um soberano para si, alguém que o domine e governe. Para o problema da fome, por exemplo, Jesus mostrou que a comunidade tem capacidade de superar quando vive o espírito da partilha e da solidariedade. A proclamação de Jesus como rei seria uma deformação do seu messianismo, o que persistirá por muito tempo na comunidade, inclusive entre os discípulos, como mostrará João na última ceia, com a resistência de Pedro à atitude serviçal de Jesus no lava-pés (cf. Jo 13,6ss).

O Evangelho de hoje mostra que a comunidade deve ter prioridades irrenunciáveis, como encontrar solução para o problema da fome, por exemplo. O exemplo do menininho, colocando à disposição da comunidade os cinco pães e os dois peixes, e a atitude de Jesus rendendo graças pelo pouco que tinha, oferecem muitas luzes para os cristãos de todos os tempos. A comunidade não pode esperar ter condições necessárias para viver o programa do Reino, mas é ela mesma que tem que criar tais condições, encontrando dentro de si mesma a solução para os seus problemas, vencendo o egoísmo, a inveja, o orgulho e o desejo de poder. É claro que o Evangelho não tem respostas apenas para as necessidades materiais das pessoas, como veremos nos próximos domingos. Mas, no texto específico de hoje, a ênfase do evangelista é a necessidade de superar a fome de pão das pessoas necessitadas, ou seja, das almas de carne e osso!

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

sábado, 28 de julho de 2018

2º CONGRESSO REGIONAL NE2 DA PASTORAL FAMILIAR.

Nossa paróquia estar representada no 2ª Congresso Regional NE2 da Pastoral Familiar.

ARQUIDIOCESE DE OLINDA E RECIFE
COMISSÃO ARQUIDIOCESANA DA PASTORAL FAMILIAR
2º CONGRESSO REGIONAL NE2 DA PASTORAL FAMILIAR
“FAMÍLIA, UMA LUZ PARA A SOCIEDADE” Papa Francisco
“Família, sede sal da terra e luz do mundo” Mt. 5, 13-14

ORAÇÃO DO 2º CONGRESSO REGIONAL NE2 DA PASTORAL FAMILIAR
Sagrada Família de Nazaré, dirigimo-nos a vós com confiança: ajudai-nos a assumir com renovado ardor, o compromisso missionário na Igreja em estado permanente de missão.
Fazei de nossas famílias uma luz para vida em sociedade, transformando-as em lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do evangelho e pequenas Igrejas domésticas.
Ó Sagrada Família de Nazaré, afastai de nossas famílias a violência, o fechamento e a divisão. Que as famílias cristãs saibam perdoar as ofensas e praticar a misericórdia evangélica.
Jesus, Maria e José, inspirai-nos a vivência da fé cristã, do amor, do recolhimento, do silêncio e da harmonia familiar.
Olhai para as famílias machucadas, feridas e incompletas do nosso país.
Para que a família seja cada vez mais uma luz para vida em sociedade, vos pedimos unidos a Maria e José por meio de Jesus Cristo, vosso Filho na unidade do Espírito Santo.
Que nenhuma família seja excluída da vida comunitária e missionária da nossa Igreja. Ó Sagrada Família de Nazaré, abençoai o 2º Congresso Regional NE2 da Pastoral Familiar e fazei que este Congresso traga abundantes frutos de renovação espiritual e consolidação da Pastoral Familiar em todas as Dioceses e Paróquias do nosso Regional.
Amém







Missa pelos 30 anos da Pastoral da Terra - CPT







De mais um módulo da Escola de Fé e Política em Apodi.







sexta-feira, 27 de julho de 2018

Anuário Pontifício 2018: cresce número de católicos no mundo.


Os fiéis católicos no mundo continuam a aumentar de ano em ano, embora com mais lentidão do que no passado. A África é o continente com o maior crescimento de batizados de 2010 a 2016, enquanto que a Europa registra uma diminuição de fiéis. Estas são as informações apresentadas pelo Anuário Pontifício 2018
Mais fiéis católicos
Os católicos batizados, segundo o Annuarium Statisticum, de 2015 a 2016 passaram de 1 bilhão e 285 milhões a 1 bilhão e 299 milhões, com um aumento total de 1,1%. No mesmo período, a população mundial aumentou pouco mais do que o número de católicos, por isso em 2016, a Igreja contava com 17,67 por cento de fiéis em relação à população mundial, enquanto que em 2015 eram 17,73.
A África o continente mais dinâmico, a Europa perde fiéis
A África conta com 17,6% dos católicos de todo o mundo e se caracteriza pelo maior incremento entre os anos 2010-2016. Os fiéis, de fato, passaram de pouco mais de 185 milhões a mais de 228 milhões, ou seja com aumento de mais de 23%. O país com o maior número de batizados é a República Democrática do Congo com mais de 44 milhões, seguido pela Nigéria com 28 milhões de católicos. Enquanto que no Velho Continente, constata-se uma diminuição de 0,2%, mesmo contando com quase 22% da população católica mundial.
A maior parte dos católicos nas Américas
Quase a metade dos fiéis, reside nas Américas (48,6%), mesmo se a grande maioria pertence à América do Sul (57,5%, sendo que 27,5% só no Brasil que se confirma como o país com o maior número de católicos no mundo) e 14,1% América do Norte e 28,2% na América Central.
A Ásia, onde historicamente os católicos são uma minoria, com exceção das Filipinas, os católicos são 11% da população. Enquanto que o restante 0,8% – ou seja pouco mais de 10 milhões de católicos – vivem na Oceania.
Os países que podem ser considerados “os mais católicos” são quinze, e somam mais de 64% de batizados, isto é, 830 milhões de pessoas. Quatro são africanos (República Democrática do Congo, Nigéria, Uganda e Angola), outros quatro encontram-se no continente americano (Brasil, México, Estados Unidos e Colômbia), dois na Ásia (Filipinas e Índia) e cinco da Europa (Itália, França, Espanha, Polônia e Alemanha).
Mais bispos e diáconos, mas continua a crise vocacional
No período entre 2010 e 2016, o dado positivo é o aumento do número de bispos de quase 5% (em 2016 eram 5.353), além disso no último ano foram instituídas seis novas sedes episcopais, quatro eparquias, uma nova sede metropolitana e três vicariatos apostólicos foram elevados a dioceses.
As áreas geográficas com o aumento mais consistente no número de bispos presentes são a América Central, do Sul e a Ásia. O número de sacerdotes no mundo católico é de 414.969: 67,9% são do clero diocesano enquanto que o restante 32,1% religioso. Uma estatística que retoma quase fielmente a de 2015, enquanto que o grupo que registrou o maior aumento foi o dos diáconos permanentes, que cresceu com uma média anual de quase 3%.
Número em diminuição, ao invés, para seminaristas e religiosas professas, que confirmam a queda geral de vocações dos últimos anos. De fato, em seis anos, o número dos que entram no seminário diminuiu 1,8%, enquanto que as religiosas professas diminuíram 8,7%.
Fonte: Vatican News

Como rezar a Coroa das 7 Alegrias de Nossa Senhora


Uma forma especial do Santo Rosário em honra de sete grandes alegrias vividas pela Virgem Santíssima

ACoroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora, chamada também de Coroa Seráfica ou Rosário Franciscano, compõe-se de sete mistérios, com um Pai-nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai, em honra das sete alegrias de Nossa Senhora, consubstanciadas nos seguintes principais mistérios:
1. Encarnação do Verbo divino;
2. Visitação da Mãe de Deus à sua prima santa Isabel;
3. Nascimento de Jesus;
4. Adoração prestada ao Divino Infante pelos três reis magos;
5. Encontro de Jesus no Templo;
6. Jubilosa Ressurreição do Salvador;
7. Coroação da Virgem Imaculada no céu.

A história

Em 1442, na época de São Bernardino de Sena, divulgou-se a notícia de que Nossa Senhora teria aparecido a um noviço franciscano, que, desde criança, tinha o costume de oferecer à Virgem Maria uma coroa de rosas.
Depois de entrar na Ordem dos Frades Menores, porém, ele se sentia triste por não poder continuar oferecendo à Virgem os ramos de flores – chegou até a pensar em desistir da Ordem seráfica.
Apareceu-lhe então a Virgem para consolá-lo e indicar-lhe outra oferta diária, que seria para ela ainda mais agradável: ela lhe sugeriu que, todos os dias, rezasse sete dezenas de ave-marias intercaladas com a meditação de sete misteriosos acontecimentos da sua vida que a tinham enchido de alegria.
Teria assim nascido o Rosário FranciscanoCoroa Franciscana,Coroa Seráfica ou Coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora.
São Bernardino foi um dos primeiros a praticar e divulgar esta piedosa devoção.
Existem algumas versões das Sete Alegrias que juntam alguns desses episódios da vida de Nossa Senhora, como a Anunciação, a Encarnação de Jesus e a Visitação a Santa Isabel, em um único mistério, de modo a acrescentar depois mais alguns grandes e felizes episódios da história cristã como a Ascensão de Jesus e o Pentecostes. No entanto, ainda que perfeitamente válidas, essas versões popularizadas desde a Idade Média não correspondem ao original Rosário Franciscano.

Como rezar a Coroa Franciscana

1. No primeiro mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora ao ouvir do Arcanjo São Gabriel que fora escolhida por Deus para ser Mãe do Salvador.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
2. No segundo mistério consideramos a alegria da Santíssima Virgem em casa de sua prima Santa Isabel, quando foi pela primeira vez saudada como Mãe de Deus.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
3. No terceiro mistério consideramos o inefável gozo de Nossa Senhora no estábulo de Belém, quando seu Filho divino nasceu milagrosamente.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
4. No quarto mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora quando os três magos vieram de longe adorar o Menino Jesus e oferecer-lhe ouro, incenso e mirra
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
5. No quinto mistério consideramos a alegria de Nossa Senhora quando achou o Divino Menino no Templo entre os doutores.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
6. No sexto mistério consideramos a alegria e o júbilo da Santa Mãe de Deus, quando, na manhã de Páscoa, viu seu Filho divino ressuscitado e glorioso.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória
7. No sétimo mistério consideramos a maior de todas as alegrias de Nossa Senhora, quando morreu santamente e foi levada aos céus, com corpo e alma, acima dos coros angélicos, à direita de seu Filho divino, que a coroou Rainha dos anjos e dos santos.
1 Pai-nosso, 10 Ave-Marias e 1 Glória

Uma tradição adicional

Segundo uma antiga tradição, Maria Santíssima viveu 72 anos na terra antes de sua Assunção aos Céus.
Por isso, na Coroa das Sete Alegrias, podem-se acrescentar duas Ave-Marias antes de começar as sete dezenas, para que assim se complete uma Ave-Maria para cada ano de vida de nossa Mãe Maria neste mundo.

Fonte: Aleteia

Atente-se para as cinco atitudes necessárias para viver bem o Ano do Laicato:


1. Assuma seu compromisso batismal
Seja testemunha do Evangelho no seu cotidiano, exercitando sua espiritualidade e missão através de pequenas atitudes diárias. Em sua casa, em seu trabalho, com seus amigos; empenhe-se para fortalecer o Reino de Deus.
2. Participe efetivamente da Igreja
São muitos os ministérios e pastorais em que o leigo pode participar de forma ativa, como membro efetivo da Igreja. Algumas das tarefas que podem ser desempenhadas por leigos: catequista, ministro da Eucaristia, agente das diferentes pastorais, serviço aos pobres e aos doentes. 
3. Participe de questões políticas e sociais
O cristão leigo deve cumprir seu papel como cidadão no mundo da política, da cultura, nos movimentos populares e sindicais. Em todos os âmbitos deve testemunhar a palavra de Jesus Cristo. 
4. Incentive a participação do jovem na Igreja
“A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês! Papa Francisco na Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro.
5. Exercite a caridade
O exercício da caridade permite que de diversas formas, o cristão possa viver uma experiência missionária e misericordiosa. Através da caridade demonstramos o Amor de Deus para com o próximo. Participe do Domingo da Solidariedade na sua Paróquia. 
“É dever de cada batizado conhecer Jesus Cristo, viver seus sentimentos de amor e ajudar os mais necessitados a serem felizes e a todos se santificarem para a glória de Deus. (Dom Severino Clasen, presidente da Comissão Episcopal Especial para o Ano do Laicato)

Nesta quinta-feira, dia 26, será iniciado os  "Encontros de Reflexão do Ano Nacional do Laicato" nas paróquias. Participe!!!
Missa de Encerramento:
Sintam-se convidados para a Santa Missa de encerramento dos “Encontros de Reflexão do Ano do Leigo” neste domingo, às 11h, na Catedral de Santa Luzia. “É tempo de dar testemunha de vida ao próximo, assumindo a graça de sermos Igreja". Venham celebrar conosco!!
Fonte: Diocese de Santa Luzia

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Missa de Encerramento do PROMIS 2018.








Cantora católica surpreende os jurados do The Voice Brasil

Ela já está sendo considerada uma das grandes revelações do programa de TV

Muita gente já conhece a Larissa Viana, de 22 anos, que percorre o Brasil interpretando músicas católicas. Ela, inclusive, cantou para o Papa Francisco na Missa de Abertura da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013.
Agora, o talento da artista encanta os jurados e o público do programa The Voice Brasil. Na fase de audições às cegas, ela interpretou a música “Man in the Mirror”, de Michael Jackson, e deixou todo mundo de queixo caído. Logo nas primeiras notas que ela soltou, os quatro jurados viraram as cadeiras ao mesmo tempo.  
Antes de subir ao palco, Larissa fez o sinal da cruz. Depois, quando foi falar de sua trajetória na música, disse com muito orgulho: “Sou católica!”. A partir daí, os técnicos iniciaram uma batalha para tentar levar Larissa para os seus times. Carlinhos Brown falou que tinha uma imagem de Santo Antônio no anel. Já Michel Teló mostrou um terço que usava em meio às pulseiras. “Aí pegou firme!”, brincou Larissa, referindo-se ao tercinho. Mesmo assim, ela escolheu o time de Lulu Santos, que ficou muito agradecido pela escolha e, empolgado, perguntou à missionária: “Vamos ganhar isso?”
Larissa é de Petrópolis, Rio de Janeiro, onde sempre frequentou a Igreja Católica. Atualmente, cursa Canto Lírico na Universidade Federal do Rio de Janeiro e é cantora missionária e de MPB. Ela também participou das gravações do hino oficial em português da Jornada Mundial da Juventude do Panamá. “Eu acredito na beleza da música. Eu acho que nós, artistas, a gente precisa ser muito fiel ao que é belo. O belo transforma a vida das pessoas”, declarou a cantora, que já está sendo considerada uma das favoritas do The Voice Brasil. 
Para assistir à apresentação de Larissa Viana no The Voice, clique aqui.

Por que a Besta é o único personagem da Bíblia a ter um número e não um nome?

Algumas explicações da hermenêutica bíblica tradicional lançam luz sobre o assunto, assim como os pensamentos do Papa Bento sobre a história recente e eventos atuais

No capítulo 13, versículo 18 do Livro de Revelação de João, lê-se:
“Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” Apocalipse 13,18.
Em 15 de março de 2000, enquanto ainda era o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então Cardeal Joseph Ratzinger falou durante a inauguração da Terceira Semana de Fé Diocesana na Catedral de Palermo, na Sicília, diante de aproximadamente 1.500 pessoas. Esse discurso – não tão conhecido como o de Regensburg  –  agora é comumente referido como a conferência de Ratzinger sobre Paternidade e Apocalipse.
Nesta conferência, Ratzinger advertiu o público sobre os perigos da biotecnologia, explicando que a redução da paternidade humana a um fenômeno biológico, privando-a das suas dimensões humana e espiritual, é uma ameaça que esvazia todas as afirmações que se poderia dizer sobre Deus, o Pai. “A dissolução da paternidade e da maternidade”, explicou, “está ligada à dissolução de nossos filhos e filhas”.
Agora, o que isso pode ter a ver com o número apocalíptico da Besta? O argumento de Ratzinger explica que o antagonista de Deus, a Besta, é o único personagem da Bíblia que não tem um nome, mas um número. Na revelação bíblica, a presença atenta de Deus revela-se com um nome e, até mesmo, pode argumentar, em um nome. Este ato, argumenta Ratzinger, significa o desejo de Deus de ser abordado, para entrar em comunhão. O antagonista de Deus, “esta Besta”, explica Ratzinger na mesma conferência, “não tem um nome, mas um número […] A Besta é um número e se transforma em números”.
Alguns autores leram isso como a crítica de Ratzinger à razão instrumental. O então cardeal estava claramente se referindo à experiência dos campos de concentração, mas também aos riscos de compreender o humano em termos de meros mecanismos biomecânicos.
“Em seu horror [os campos de concentração] cancelam rostos e história, transformando o homem em um número, reduzindo-o a uma engrenagem em uma máquina enorme. O homem não é mais do que uma função. (…) Nos nossos dias, não devemos esquecer que eles prefiguraram o destino de um mundo que corre o risco de adotar a mesma estrutura dos campos de concentração se a lei universal da máquina for aceita. As máquinas que foram construídas impõem a mesma lei. De acordo com essa lógica, o homem deve ser interpretado por um computador e isso só é possível se traduzido em números. A Besta é um número e se transforma em números. Deus, no entanto, tem um nome e chama pelo nome. Ele é uma pessoa e procura a pessoa”.
Agora, como acontece com a gematria hebraica (ou seja, a atribuição do valor numérico às letras do alfabeto), as letras gregas também podem ter um valor numérico correspondente. Isso é o que é conhecido como isopsephia. O uso da isopsephia para “calcular” o número da Besta ajudou toda uma tradição teológica e hermenêutica a entender o número 666 como equivalente ao nome e título de Nero César, que era o imperador romano do ano 54 até 68. Seu nome, escrito em aramaico, também pode ser “calculado” como equivalente a 666 usando gematria hebraica tradicional. Na verdade, “Nero Caesar” em hebraico lê נרון קסר (NRON QSR). Essa ortografia, quando usada como números, representa 50-200-6-50-100-60-200, o que equivale a 666.
Os historiadores entenderam que essa era a maneira pela qual as primeiras comunidades cristãs perseguidas podiam falar contra o imperador sem que as autoridades romanas soubessem. Mas esta explicação não torna o argumento de Ratzinger inválido, simplesmente porque Nero era uma pessoa histórica real. O que o número da Besta revela é que a dissolução de traços pessoais, a substituição de nomes por estatística, a redução do ser humano a qualquer das suas funções básicas (como na redução da paternidade a apenas um fenômeno biológico, privada de sua dimensão espiritual e moral, ou como na redução da crise dos refugiados a mera estatística), cedo ou tarde, corre o risco de conduzir à desumanização.

Reflexão opara o XVI Domingo do Tempo Comum- Marcos 6,30-34 (Ano B)


Neste décimo sexto domingo do tempo comum, o Evangelho proposto pela liturgia é Marcos 6,30-34, texto localizado entre os relatos do martírio de João Batista (cf. Mc 6,14-29) e a primeira multiplicação dos pães (cf. Mc 6,35-44). Mesmo intercalando esses dois importantes relatos, o Evangelho de hoje está diretamente em continuidade com aquele que refletimos no domingo passado (cf. Mc 6,7-13): os discípulos enviados dois a dois retornam da missão e contam a Jesus a experiência vivida, ou seja, o que fizeram e ensinaram nos povoados da Galileia por onde passaram.

Entre o envio em missão e o retorno dos discípulos, o evangelista relata um episódio que, embora saltado pela liturgia, não pode ser ignorado: a execução de João Batista por ordem de Herodes. Esse acontecimento, sem dúvidas, marcou a vida de Jesus e da sua comunidade, tanto pelo afeto que os unia quanto pela certeza ele tinha de ser, dentro de pouco tempo, também vítima do poder imperial. Porém, diante das necessidades das multidões, Jesus não se omite nem se deixa amedrontar. Mesmo abalado pela morte do seu mentor, prossegue a sua missão ainda mais encorajado, tendo em vista as necessidades do povo abandonado como ovelhas sem pastor.

Olhemos para o texto, o qual diz que “Os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado” (v. 30). Aqui está o elo de ligação entre o Evangelho de hoje e o do domingo passado: os apóstolos enviados retornam e contam tudo a Jesus. Essa é a única vez em que Marcos usa o termo apóstolos (em grego: avpo,stoloj – apóstolos), cujo significado literal é enviado. Nas outras ocasiões, o evangelista se refere aos discípulos mais próximos de Jesus apenas como os Doze, preservando o sentido original da palavra “apóstolos” como uma função, ao invés de considerar um título.

Como os Doze foram constituídos “para que ficassem com ele e para serem enviados a pregar” (cf. Mc 3,14), tendo retornado do envio, procuram logo“estar com Jesus”, a primeira necessidade e condição do ser discípulo. Como aquela fora a primeira experiência, obviamente tinham muito a contar sobre o que tinham feito e ensinado. “Reunir-se com Jesus” é uma necessidade para a comunidade perseverar e manter-se fiel aos seus ensinamentos. O evangelista recorda esse fato com muito interesse para a sua comunidade. Nas idas e vindas da vida e da missão, é necessário parar para estar com Jesus e confrontar com ele o que se faz e o que se prega. A comunidade cristã precisa ter tempo para constantemente confrontar suas ações, seu calendário e sua organização com a palavra de Jesus, os Evangelhos. Sem essa disposição, dificilmente manter-se-á fiel ao Evangelho.

Certamente, como era a do próprio Jesus, a missão dos apóstolos fora marcada pelas contradições que lhe são características: acolhida e rejeição, fé e incredulidade, elogio e difamação. A rejeição em Nazaré (cf. Mc 6,1-6) serviu de parâmetro para Jesus. Os discípulos, enquanto apóstolos, voltaram cansados e Jesus sentiu a necessidade do descanso. Por isso, “Ele lhes disse: vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco” (v. 31a). Porém, o descanso proposto por Jesus não é um mero lazer, mas um aprofundamento nas convicções da vocação e da missão. Por isso, Jesus os chamou para um lugar deserto. Ora, na linguagem bíblica, o lugar deserto é propício para o encontro com Deus. Aqui, o descanso dos discípulos no deserto significa, além do necessário e importante repouso físico, a meditação das palavras de Jesus, a oração e a necessidade de renovar constantemente as convicções.

Não era fácil para Jesus nem para os discípulos reservar um momento de descanso e retirada em um lugar deserto, pois “Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer” (v. 31b). Essa é a segunda vez em que o evangelista afirma que a presença das multidões ao redor de Jesus e dos discípulos os impedem até mesmo de comer; a primeira vez, fora na casa, em Cafarnaum, logo após a constituição dos Doze (cf. 3,20). Isso mostra que Jesus não ignorava as pessoas com suas necessidades, o que lhe custava muitas renúncias. Porém, a necessidade do descanso dos discípulos e o tempo para “ficarem sozinhos” com ele é irrenunciável; a comunidade precisa ser ensinada a sentir a necessidade desses momentos.

Mesmo sendo difícil, “Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado” (v. 32). O evangelista mostra a insistência de Jesus com os discípulos: a experiência do lugar deserto é indispensável, mesmo que não seja prolongada, tendo em vista as necessidades das pessoas. Na tradição profética, o deserto é o lugar onde “Deus fala ao coração” (cf. Os 2,16), por isso é indispensável para a comunidade fazer constantemente essa experiência. É importante ressaltar que, ao insistir com a ida ao lugar deserto, Jesus não estava fugindo do povo, nem induzindo os discípulos a fazerem o mesmo; pelo contrário, estava ressaltando a necessidade de aprofundar a experiência de Deus em suas vidas para compreender melhor as necessidades do povo e, assim, servir melhor.

Se antes, apenas com a pregação de Jesus, mesmo sofrendo rejeição em alguns lugares, as multidões já se aglomeravam ao seu redor (cf. Mc 2,1; 3,9.20; 4,1; 5,21), muito mais agora com a sua mensagem dilatada pela missão dos apóstolos. Isso tornava cada vez mais difícil encontrar o tempo necessário para a experiência irrenunciável do lugar deserto. Enquanto Jesus e os discípulos partiram de barco, “muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles” (v. 33). As multidões precedem a Jesus e aos discípulos no outro lado do lago. Saíam “de todas as cidades”, certamente, de onde tinham passado os Doze e de onde também Jesus já tinha passado.

Chegando ao destino, “ao desembarcar, Jesus viu numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas” (v. 34). Embora irrenunciável, a experiência do encontro do lugar deserto não pode se sobrepor às necessidades concretas das pessoas, principalmente das mais vulneráveis. Essa cena não pode ser ignorada pela comunidade que tem acesso ao Evangelho. O evangelista Marcos é muito econômico nas palavras: só utiliza a palavra compaixão em quatro ocasiões (cf. Mc 1,41; 6,34; 8,2; 9,22) que são situações de extrema necessidade. Ao invés de envaidecer-se com o aparente sucesso, pois as multidões o buscavam incansavelmente, Jesus sente compaixão. Compaixão quer dizer o amor profundo e máximo de Deus, que nasce das entranhas, comparável somente ao amor materno; literalmente, significa “contorcer as entranhas”, o núcleo mais profundo e íntimo do ser humano, conforme a mentalidade semítica.

O que fazia Jesus contorcer-se por dentro era a situação da multidão:“estavam como ovelhas sem pastor”. Essa comparação reflete o grau máximo de abandono e degradação do qual as multidões eram vítimas, e revela, ao mesmo tempo, a corrupção e hipocrisia dos dirigentes, tanto religiosos quanto políticos, a causa principal daquela situação. A imagem da ovelha é sinônimo de mansidão e vulnerabilidade; a ausência de um pastor que a conduza e proteja significa exposição aos perigos. A ausência de pastores que cuidem da multidão é uma nítida crítica aos dirigentes religiosos, principalmente.

O plano de retirar-se para um lugar deserto foi alterado porque havia uma necessidade ainda maior: cuidar das pessoas que estavam “como ovelhas sem pastor”, ou seja, exploradas e abandonadas pelos sistemas dominantes da época: a religião oficial judaica e o império romano. Assim como fez Jesus, também deve fazer a comunidade cristã em todos os tempos: ser flexível diante das situações que exigem ações concretas e urgentes. A necessidade da multidão fez Jesus alterar seu programa: “Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”. Ao contrário de Mateus que apresenta os diversos discursos de Jesus, Marcos apenas diz que Jesus ensinou, sem dar a conhecer o conteúdo. Porém, é sabido que seu ensinamento consistia no anúncio do Reino de Deus, marcado pelo convite à conversão para poder fazer parte desse Reino. Esse último versículo (v. 34) já introduz o episódio seguinte: o relato da primeira “multiplicação dos pães” (cf. Mc 6,35-44).

Embora curto, o Evangelho de hoje é bastante rico, como acabamos de refletir. Percebemos que, enquanto comunidade enviada por Jesus, é sempre necessário estar com ele e confrontar o anúncio e a práxis com aquilo que o Evangelho propõe. A comunidade não pode medir esforços nem pôr obstáculos aquilo que é essencial, incluindo o cuidado com as pessoas mais necessitadas. Se uma regra básica para o seguimento de Jesus é a disponibilidade para o serviço, as necessidades do próximo devem estar sempre em primeiro lugar, mesmo que sejam necessários sacrifícios para isso, como Jesus sacrificou o descanso dos discípulos que tinham acabado de chegar da missão.

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

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