quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Missa da Graça.










“Tarde Te amei!” De Santo Agostinho, uma das mais arrebatadoras orações de todos os tempos


"Et ecce intus eras et ego foris et ibi te quaerebam, et in ista formosa quae fecisti deformis irruebam..."

1. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.
2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…
3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.
4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.
5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.
6. Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!
7. E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…
8. Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!
Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

Do que o meu filho precisa para se preparar bem para a 1ª Comunhão?


Se você acha que o importante é memorizar orações e respostas do catecismo... você está fazendo isso errado

Há uma acentuada preocupação de melhorar a preparação para a Primeira Comunhão. Muito justa e necessária, até agora, no entanto, ela tem sido muito frágil. O resultado é que centenas de crianças fazem a Primeira Comunhão e encerram aí a vida cristã, que apenas devia ter começado.
Não lhes damos assim:
• uma verdadeira noção da vida cristã;
• o senso de Deus, para cuja glória vivemos;
• a responsabilidade dos deveres cristãos;
• um conhecimento vivo dos caminhos a trilhar;
• a iniciação nos grandes hábitos cristãos;
• o desejo da Eucaristia.

Não as preparamos de modo que se possa ter alguma garantia de perseverança, sem a qual, diz Cristo, não é possível a salvação: “Quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt. 10, 22).
Por isso, o remédio é uma boa preparação, que urge dar agora, mais do que nunca, sob pena de continuar esse desolador resultado, e, o que é pior, em proporções cada vez maiores.
A boa preparação de uma criança para a Comunhão não requer:
• saber de cor muitas respostas do catecismo
• saber de cor muitas orações
• saber os nomes dos principais mistérios da fé;

— Mas requer que a criança:
• saiba realmente (não repetir palavras e frases que não compreende) as principais verdades da Religião, de modo proporcionado à sua capacidade;
• esteja iniciada conscientemente nos grandes hábitos da vida cristã:
• estado de graça
• orações diárias
• Missa de preceito
• desejo de cumprir os Mandamentos
• fé viva
• obediência à Igreja
• tenha o senso de Deus e de Cristo;
• conheça e deseje a Eucaristia;
• tenha disposição para perseverar na vida cristã, depois da Primeira Comunhão.

A boa preparação deve ser:
• preocupada em formar o cristão, mais do que em dar-lhe noções;
• vital, para infundir hábitos para toda a vida cristã;
• prática, a fim de que a doutrina aprendida se traduza em atos;
• longa, para que esses atos se consolidem em hábitos;
• orientada para um ideal que só se extinguirá com a vida.

Só assim conseguiremos formar cristãos verdadeiros de consciência reta e sensível, responsáveis diante de Deus, capazes de agir de modo pessoal e espontâneo; de refletir, de julgar com critérios cristãos; de controlar as paixões; de orientar para Deus toda a sua vida.
Uma preparação assim foi sempre necessária, e mais ainda o é em nossos dias, quando são tantas as influências contra a fé e a vida cristã, e quando a própria ação da família só raramente contribui para oferecer à criança o ambiente de que ela precisa para o seu crescimento sobrenatural.
Quando a criança tem um lar cristão, e vai aprendendo dia a dia a ser cristã, do modo mais eficiente possível, à luz do exemplo dos pais e irmãos, pela força irresistível do ambiente, pondo alicerces profundos à vida espiritual, bastará uma preparação próxima de dois ou três meses porque se tem a certeza de que a formação cristã irá continuar, garantindo assim a perseverança.
Quando, porém, a pobre criança vem de um lar descristianizado, ou desses cristãos de nome, sem raízes, sem senso cristão, sem hábitos religiosos, não vejo como seja possível realizar em menos de um ano a formação que dê esperança de iniciação séria na vida cristã e de perseverança nela.
Como hoje em dia a norma não é, infelizmente, o lar de bons cristãos, façamos a formação de dois anos, ficando a mais curta para as exceções, ou, seja, para os filhos de famílias verdadeiramente cristãs, que mercê de Deus, existem.

domingo, 26 de agosto de 2018

Reflexão para o XXI Domingo do Tempo Comum- João 6,60-69 (Ano B)



Neste vigésimo primeiro domingo do tempo comum, concluímos a sequência de cinco domingos em que a liturgia faz uso do sexto capítulo do Evangelho segundo João, embora nos tenha restado somente quatro domingos, devido a interrupção para a solenidade da Assunção de Nossa Senhora no domingo passado. O Evangelho de hoje é João 6,60-69, e contempla a reação final dos discípulos, incluindo os Doze, ao longo e exigente discurso de Jesus sobre o pão da vida, ele mesmo, e a necessidade de alimentar-se dele. Tudo isso, ainda, como desdobramento do sinal da multiplicação ou condivisão dos pães no início do capítulo (cf. 6,1-15).

A multidão que tinha sido saciada a partir da partilha dos cinco pães e dois peixes quis, de imediato, proclamar Jesus como rei (cf. 6,15. Diante de uma ideia tão absurda, Jesus refugiou-se (cf. 6,15), mas a multidão o encontrou novamente, já na sinagoga de Cafarnaum, do outro lado do lago (cf. 6,22-25), esperando comer de novo pão gratuito e em abundância (cf. 6,26).. Ao sentir-se incompreendido, Jesus aproveitou a oportunidade para fazer uma ampla catequese, apontando para a importância de se buscar não apenas o pão material, pois, embora necessário e essencial, esse é perecível e seus efeitos duram poucas horas. Por isso, apontou para a necessidade de um alimento que dura por toda a vida, mostrando que esse alimento é a sua própria pessoa (cf. 6,27-40).

Ao apresentar-se como verdadeiro alimento, ou seja, como pão da vida ou pão vivo descido do céu, e convidar os ouvintes a comer a sua carne e beber o seu sangue, Jesus causou perplexidade, questionamentos, incredulidade e ira, gerando as mais diversas reações. O evangelista João recorda tudo isso para ajudar a sua comunidade a discernir e tomar decisões: o seguimento de Jesus é comprometedor... ser discípulo e discípula dele não é memorizar uma doutrina para depois repeti-la, mas é entrar em comunhão plena com a sua pessoa, assimilando seu jeito de ser; é esse o sentido de comer a sua carne e beber o seu sangue (cf. 6,54). Recebe-lo como alimento é tornar-se também alimento para os outros. Uma proposta de vida tão exigente assim não poderia ser absolvida com facilidade.

Tendo já mostrado as reações de outros interlocutores, como a própria multidão e as autoridades judaicas, ao discurso de Jesus como verdadeiro alimento e pão para a vida eterna, o evangelista quis mostrar também a reação dos discípulos, pois era essa a que mais interessava à sua comunidade que se encontrava com a fé comprometida, devido as perseguições e o “esfriamento” no fervor de alguns membros. Por isso, o evangelista recordou que “Muitos dos discípulos de Jesus, que o escutaram, disseram: ‘Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la’?” (v. 60). Os próprios discípulos contestam o discurso de Jesus, e essa é a grande novidade do evangelho de hoje. Ora, os evangelhos mostram muitas situações em que Jesus é contestado pelos seus tradicionais adversários (fariseus, saduceus, mestres da lei), mas nunca pelos discípulos. O máximo que os discípulos ousavam era fazer perguntas e pedir esclarecimentos sobre alguns aspectos da sua vida e do seu ensinamento.

A reclamação dos discípulos é um verdadeiro protesto contra Jesus: “Esta palavra é dura”. O evangelista emprega o adjetivo grego sklerós (sklhro,j), o qual, além de duro significa também difícil, insuportável, inadmissível, ofensivo e violento. Os discípulos se sentiam completamente incapacitados para continuar no seguimento, uma vez que o anúncio de Jesus parecia inviável. A dureza da palavra de Jesus consiste no comprometimento que dela deriva: diante dela, é preciso tomar posições firmes como tornar-se alimento para os outros, fazendo as mesmas opções de Jesus e, consequentemente, assumindo as consequências. É uma palavra dura porque não se trata de um discurso para ouvir uma vez por semana, como a liturgia da sinagoga, mas exige uma coerência de vida cotidiana; não é uma palavra para ser simplesmente proferida, mas para ser vivida.

Além da reclamação, Jesus percebeu que seus discípulos estavam murmurando, e por causa disso mesmo, perguntou: ‘isto vos escandaliza?”(v. 61). Murmurando, os discípulos repetem um dos antigos pecados de Israel. Os israelitas, recém-libertados, murmuravam constantemente contra Deus e Moisés (cf. Ex 16,2-4). O verbo murmurar, como emprega o evangelista (em grego: goggu,zw – gonguízo) expressa uma revolta contra Deus, considerando toda a simbologia do mundo bíblico, é a negação da fé. Portanto, os discípulos, ou pelo menos uma parte desses, fizeram revolta contra Jesus, pois se sentiram ofendidos pelo seu discurso. Ao perguntar se aquilo, o discurso, os escandalizava, ou seja, se era impedimento para a fé deles, Jesus vai bem mais além, dizendo, em outras palavras, que era como se os discípulos “ainda não tivessem visto nada”: “E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?” (v. 62). Uma das passagens mais chocantes do discurso de Jesus foi dizer ser ele “o pão vivo descido do céu”; um absurdo para seus ouvintes que conheciam até mesmo seus pais e sabiam que ele não passava de um carpinteiro (cf. 6,41-42). Logo, a sua subida seria muito mais chocante para os discípulos, uma vez que compreendia a passagem pela cruz, destino reservado também aos discípulos. Aqui, Jesus os previne: coisas piores estão por acontecer.

Diante da reação negativa, Jesus não procura conformar seu discurso e suas exigências às capacidades e disposições dos discípulos; pelo contrário, reforça o que já havia dito e deixa claro que já previa a resistência e até mesmo a negação completa de seu projeto por alguns discípulos: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. Mas entre vós há alguns que não crêem’. Jesus sabia desde o início, quem eram os que tinham fé e quem havia de entrega-lo” (vv. 63-64). A revolta dos discípulos não faz Jesus alterar seu projeto. Ele reforça sua confiança no Pai e a relação intrínseca entre os dois: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”(v. 65). Se foi o Pai quem o enviou, é também o Pai quem chama e atrai para o seu seguimento. Na história da salvação, a iniciativa é sempre de Deus. Quem se deixa atrair pelo Pai e vai a Jesus, terá a plenitude da vida, não como prêmio, mas como consequência.

Aquele momento foi um divisor de águas na vida de Jesus e dos discípulos, pois fora a sua máxima revelação, até então, na dinâmica do Quarto Evangelho. Foi o momento em que Jesus mais falou de si, deixando-se conhecer completamente. O evangelista sentia que a sua comunidade, vivendo momentos de altos e baixos no discipulado, precisava tomar decisões importantes e, para isso, era necessário tornar Jesus cada vez conhecido em toda a sua profundidade, inclusive deixando claro o seu programa de vida com as exigências nesse implicadas. Até mesmo o encontro semanal da fração do pão (eucaristia) estava perdendo a sua importância na comunidade, passando a ser apenas um conjunto de ritos, deixando de ser verdadeiro encontro de comunhão transformadora. Assim como Jesus mesmo fez, também o evangelista quis mostrar que o discipulado não é uma obrigação, e sim uma opção radical e exigente. Por isso, “A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele” (v. 66). Houve desistência entre os discípulos porque nem todos estavam dispostos a aderir aos compromissos do discipulado. As “palavras duras” são realmente difíceis de ser assimiladas e vividas, de modo que um seguimento superficial não tem como se sustentar. Por isso, muitos desistiram de continuar seguindo-o.

Entre os discípulos e discípulas, estava o seu núcleo primeiro, o chamado grupo dos Doze, a quem Jesus se dirige com muita firmeza: “Vós também vos quereis ir embora?”  (v. 67). Com essa pergunta, Jesus mostra seu respeito pela liberdade de cada pessoa e, sobretudo, as convicções do seu projeto: é mais fácil ficar sem discípulos do que mudar o seu programa. Suas exigências são inegociáveis. Em uma sociedade dominada pelo egoísmo, injustiça, privação de liberdade, exclusão e hipocrisia, as “palavras duras” são necessárias para desestabilizar o sistema e, assim, iniciar a construção de um mundo novo repleto de amor, justiça, fraternidade e paz.

Mesmo não sendo totalmente coerente, o grupo dos Doze optou por continuar no seguimento, como mostra o evangelista com a resposta de Pedro: “Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus” (v. 68-69). Ao responder no plural, Pedro fala em nome dos Doze. É a resposta da comunidade que, embora pequena numericamente, procura perseverar com fidelidade no seguimento, reconhecendo que, mesmo duras, as palavras de Jesus contém vida, são palavras de vida eterna, as únicas que podem restituir vida em abundância e esperança para todos, sobretudo os mais necessitados.

Além da confiança nas palavras de Jesus, a resposta de Pedro também expressa a fé da comunidade: “nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. Provavelmente, essa expressão é uma adaptação que o evangelista faz da solene profissão de fé de Pedro nos evangelhos sinóticos: “Tu és o Cristo” (cf. Mc 8,29; Mt 16,16; Lc 9,20). Quem o reconhece como o “Santo de Deus” não se deixa escandalizar pelas suas declarações como pão descido do céu; pelo contrário, nessas palavras encontra forças para crescer na fé. Assim, os Doze conseguem assimilar a outra dimensão da dureza: a firmeza, a coragem e a força, elementos necessários e essenciais para implantar, no mundo, a civilização do amor.

Que saibamos reconhecer que as palavras duras de Jesus são também portadoras de espírito e vida, por isso, indispensáveis para a missão. Que essas mesmas palavras nos ajudem a discernir e escolher a qual projeto e religião seguir: um projeto de vida consistente e comprometedor, que não exige meios termos, mas apenas um engajamento total e transformador ou, simplesmente, uma religião como conjunto de ritos e normas com encontros dominicais fervorosos e semanas vazias de sentido e de amor. O Evangelho de hoje nos coloca na encruzilhada; é preciso tomar decisão: continuar seguindo-o ou abandoná-lo. Ele nada impõe, cada pessoa é livre para segui-lo ou não. Porém, de quem escolhe segui-lo exige-se o compromisso de ser portador de uma palavra dura, embora portadora de vida, esperança e amor.

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN

26 de agosto: Dia do Catequista - Romaria da Catequese no Santuário do Lima.

Hoje temos a alegria de comemorar o dia do Catequista, leigos são chamados a anunciar as verdades do Evangelho de Cristo, constituindo para a Igreja a Base dos ensinamentos de uma vida cristã. 
A Catequese é um pilar para a educação da fé, ajuda as crianças, os jovens e os adultos a conhecer e a amar sempre mais Nosso Senhor, é uma das aventuras educativas mais belas, pois constrói-se a Igreja! Ser catequistas envolve a vida. Conduz-se ao encontro com Jesus com as palavras e com a vida, com o testemunho.

Todo cristão batizado tem por missão ser anunciador, ser um catequista! Que o Senhor nos dê a graça de sermos renovados cada dia pela alegria do primeiro anúncio: Jesus morreu e ressuscitou, Jesus ama-nos pessoalmente!










sexta-feira, 24 de agosto de 2018

De mais uma noite de bençãos no Seminário de Vida no Espiríto Santo.





Diocese de Mossoró resgata a Conferência Episcopal de Medellín: Cinquenta anos depois 1968 – 2018




Celebramos nestes dias 50 anos da Conferência Episcopal de Medellín, ocorrida de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968, na Colômbia, um marco referencial para a caminhada eclesial na América Latina. A Diocese de Mossoró, através da Trimestral de Pastoral, no próximo final de semana, Rádio Rural de Mossoró, informativo impresso A Luz da Diocese e o programa televisivo “A Luz”, exibido toda segunda-feira, às 16h45, pela TCM-Canal 10, estará fazendo memória com entrevistas, depoimentos e exibição de um vídeo-documentário.  A ideia desta programação, além de fazer memória, é  renovar o compromisso de Medellín com uma Igreja profética que dialogue com a realidade latino-americana a partir dos pobres e de sua incansável esperança.
Nesta sexta-feira, dentro da Trimestral de Pastoral, que é um encontro trimestral onde estarão reunidos o Bispo Diocesano Dom Mariano Manzana, clero e representantes de todas as paróquias, estará sendo exibido um vídeo-documentário da Conferência Episcopal de Medellín e haverá uma explanação do Vigário-geral Padre Flávio Augusto Forte Melo. De segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, pela Rádio Rural de Mossoró, o diretor da emissora, Padre Ricardo Rubens, estará apresentando o programa “Medellín- 50 anos depois” com os seguintes convidados: Bispo Diocesano, Dom Mariano Manzana; Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha; Bispo de Caicó, Dom Antônio Carlos; Bispo de Salgueiro, Dom Magnos Henrique Lopes; Vigário-geral, Padre Flávio Augusto Forte Melo; Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, Padre Guimarães Neto, Padre Cornelio Freire, jornalista Crispiniano Neto,  a assessora do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Zélia Cristina, a professora e integrante do Movimento de Educação de Base (MEB), Socorro Oliveira, o professor e  assessor diocesano da PJMP, José Edson de Albuquerque e alguns depoimentos de bispos do Regional Nordeste II. “ Medellín marcou a história da Igreja na América Latina. Existe um antes e um depois dessa Conferência. Ela buscou colocar em prática aquilo que o Concílio Vaticano II pensou para o mundo. Então, Medellín quis ser atualização da Igreja, colocar a Igreja em sintonia com as decisões conciliares, isso trouxe uma renovação em vários aspectos, na catequese, na ação pastoral como um todo. Houve um olhar da Igreja mais para o oprimido, para o mundo. A Igreja, sem abrir mão do que ela é, buscou diálogo com o mundo e um mundo em transformação a partir da própria situação que a América Latina vivia naquele momento“, reforça Padre Flávio Augusto. Ele lembra que, em tempos tão difíceis para o Brasil e seu povo e a Diocese de Mossoró também vivendo as “Santas Missões Populares - 10 anos depois”, será oportuna toda essa programação. “Estaremos resgatando a proposta da conferência, fazendo memória, levando conhecimento para tantos que não sabem o significado e elementos fortes de Medellín e, claro, refletindo à luz das propostas a nossa atual conjuntura eclesial”, ressalta Padre Flávio Augusto e convida todos a acompanhar essa programação especial pelos canais de comunicação da Diocese de Mossoró.        

História- A II Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) foi solenemente inaugurada em um sábado, 24 de agosto de 1968, na Catedral Metropolitana de Bogotá, na Colômbia, com discurso do Papa Paulo VI. Neste ano, comemora-se os 50 anos da Conferência de Medellín, que significou um ponto de partida para a construção de uma identidade eclesial no continente. Com Medellín, o Concílio Vaticano II teve uma recepção criativa, com raízes espirituais profundas. ‘O episcopado em Medellín assumiu como imperativo de ação a consolidação da justiça, a promoção da paz, a educação libertadora e uma Igreja pobre em defesa dos empobrecidos’.

Fonte: Diocese de Santa Luzia

Trimestral de Pastoral no Centro de Treinamento em Mossoró- RN


A Diocese de Mossoró realiza, nos dias 24 e 25, mais uma reunião de Trimestral de Pastoral, no Centro de Treinamento. Mais informação na Cúria Diocesana- 7h30 às 13h- 3314.7255

Fonte: Diocese de Santa Luzia

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Romaria das Famílias - Santuário do Lima Patú.









Mais um módulo da Escola de Fé e Pólitica na paróquia de Apodi- RN.




Como a santa que achou 3 cruzes no Calvário descobriu entre elas a Cruz de Cristo


Segundo a tradição, a Verdadeira Cruz foi identificada graças a um milagre de cura

Santa Helena nasceu no ano de 270 na antiga Bitínia, região às margens do Mar Negro que hoje pertence à Rússia. Muito bonita, cativou um famoso general do exército romano, Constâncio Cloro, por quem também ela se apaixonou.

Da paixão à humilhação

O casal teve um filho chamado Constantino, que chegou a ser nada menos que o Imperador – mas a um custo muito alto para Helena: para ser promovido na corte, Constâncio Cloro aceitou a condição de repudiar sua esposa e se casar com a filha do imperador Maximiliano. Foi durante esse período de humilhação e solidão, porém, que Helena conheceu a Deus e se tornou cristã.

Um filho imperador

Passado o tempo, morto Constâncio, Constantino foi proclamado imperador e, na célebre batalha da Ponte Mílvio, em Roma, teve a visão de Cristo a lhe mostrar a Cruz e dizer: “Com este sinal vencerás”. No ano 313, Constantino finalmente decretou o cristianismo como a religião oficial do Império, após três séculos de brutais perseguições contra os cristãos.

Em busca da Cruz de Cristo

Santa Helena dedicou boa parte da vida, a partir de então, a buscar a Santa Cruz de Cristo em Jerusalém, para onde chegou a levar um grupo de escavadores que, depois de muito trabalho, conseguiu achar no monte Calvário não uma, mas três cruzes.
O relato desse encontro e de como Santa Helena identificou a verdadeira cruz é resgatado pelo Breviário Romano:
Após aquela insigne vitória que o imperador Constantino obteve sobre Maxêncio, quando recebeu de Deus o sinal da Cruz do Senhor (“In hoc signo vinces“), Santa Helena, mãe de Constantino, tendo recebido uma revelação num sonho, foi a Jerusalém para procurar zelosamente a Cruz. Lá cuidou ela de destruir a imagem de Vênus, em mármore, que, para apagar a memória da paixão de Cristo Senhor, os gentios haviam colocado no lugar da Cruz e que ali permanecera durante cerca de 180 anos. O mesmo ela fez no presépio do Salvador, onde fora posto um simulacro de Adônis, e no lugar da ressurreição, onde haviam colocado um de Júpiter.
Purgado, assim, o local da Cruz, foram encontradas depois de profundas escavações três cruzes, e, à parte delas, a inscrição que havia sido posta sobre a Cruz do Senhor. Como não se sabia sobre qual das três ele deveria ser afixado, um milagre sanou a dúvida. Eis que Macário, bispo de Jerusalém, tendo elevado preces a Deus, levou cada uma das cruzes a três mulheres que sofriam de grave enfermidade, e, enquanto as demais de nada serviram às mulheres, a terceira Cruz, levada à terceira mulher, curou-a imediatamente.
Santa Helena, tendo encontrado a Cruz da salvação, construiu ali uma igreja magnificentíssima, na qual depositou parte da Cruz em urnas de prata, entregando outra parte a seu filho, Constantino, que a levou a Roma, à igreja da Santa Cruz de Jerusalém, edificada no palácio Sessoriano. Ela também entregou ao filho os cravos que trespassaram o Santíssimo Corpo de Jesus Cristo. Naquele tempo, Constantino sancionou uma lei para que, desde então, ninguém fosse condenado ao suplício da cruz, e aquilo que antes era castigo e maldição para os homens passou a ser glória e objeto de veneração.

Abusos na Igreja: a carta do Papa aos fiéis.


Francisco escreveu uma carta a todo o Povo de Deus para falar da "vergonha" provocada pelos casos de abusos cometidos na Pensilvânia e pede oração e jejum, além de uma atuação firme das autoridades competentes

“Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele” (1 Co 12, 26).
O Papa Francisco se inspirou nas palavras do Apóstolo Paulo para divulgar esta segunda-feira (20/08/18) uma carta a todo o Povo de Deus a respeito de denúncias de abusos cometidos por parte de clérigos e pessoas consagradas.
Este crime, afirma o Pontífice, “gera profundas feridas de dor e impotência” nas vítimas, em suas famílias e na inteira comunidade de fiéis ou não.
“A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a proteção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.”

Pensilvânia

Francisco cita de modo especial o relatório divulgado nos dias passados sobre os casos cometidos no Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
“Sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz”, escreve o Papa. Ele fala ainda de negligência, abandono e arrependimento e cita as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via-Sacra de 2005, denunciou a “sujeira” que há na Igreja.
Para o Pontífice, a dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse fato de maneira global e comunitária.

Solidariedade

Não é suficiente tomar conhecimento do que aconteceu, mas como Povo de Deus, “somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade”.
O Papa explica o que entende por solidariedade: proteger e resgatar as vítimas da sua dor; denunciar tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa; lutar contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual.
“O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4, 9).”

Reconhecimento aos esforços

Francisco reconhece “o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da ‘tolerância zero’ e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes”.
O Papa reconhece ainda o atraso em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas está confiante de que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Oração e penitência

O Pontífice faz também um convite a todos os fiéis: oração e penitência.
“ Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor, que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o ‘nunca mais’ a qualquer tipo e forma de abuso.”
Na raiz desses problemas, Francisco observa um modo anômalo de entender a autoridade na Igreja: clericalismo.
Favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, o clericalismo “gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo”.
Além da oração e do jejum, o Papa chama em causa o sentimento de pertença: “Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro”.

Atrocidades

Por fim, Francisco usa a palavra “atrocidade”.
“É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros.”
E através da atitude de oração e penitência, fazer crescer em nós o dom da compaixão, da justiça, da prevenção e da reparação.

Reflexão para a Solenidade da Assunção de Maria- Lucas 1,39-56.



Ao celebrarmos, neste domingo, a solenidade da assunção de Maria, a liturgia propõe para o evangelho, o texto de Lucas 1,39-56, trecho que compreende a visitação de Maria à sua parenta Isabel, cujo ápice é a proclamação das maravilhas cumpridas por Deus ao longo da história da salvação, através do cântico que Lucas põe nos lábios de Maria, o Magnificat. Concentraremos a nossa reflexão somente no texto evangélico proposto, sem colocar em discussão as outras leituras propostas pela liturgia, nem as afirmações do dogma da Assunção, proclamado em 1950 pelo papa Pio XII.

O texto evangélico proposto é, sem dúvidas, um dos trechos mais apreciados no Evangelho segundo Lucas, sobretudo, nas tradições católicas, devido a relevância dada à figura de Maria. É uma das raras cenas do Novo Testamento que tem somente mulheres como protagonistas, o que já é um índice de sua importância. Com isso, o evangelista preconiza o início de uma nova história para a humanidade, com novas perspectivas e esperanças; essa história será escrita a partir dos pobres, desprezados e marginalizados da sociedade, como eram as mulheres na época em que Evangelho foi escrito.

Como pessoas simples e humildes, Maria e Isabel, protagonistas do episódio, são a prova de que o Deus de Israel tem um lado na história: o lado dos pobres, humildes e marginalizados, a quem ele dirige o seu olhar misericordioso (v. 48). O contexto do episódio é o da dupla anunciação do: do nascimento de João a Zacarias, esposo de Isabel (cf. Lc 1,5-25), e do nascimento de Jesus a Maria (cf. Lc 1,26-38), dentro do chamado “Evangelho da Infância”, em Lucas.

Após a retirada do anjo de perto dela (cf. Lc 1,38), tendo ficado embaraçada com o anúncio (cf. Lc 1,29), Maria tomou a firme decisão de ir visitar sua parenta, certamente com o propósito de conferir a veracidade do anúncio feito pelo anjo: “Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela que a chamavam de estéril” (cf. Lc 1,36). Realmente, a gravidez de uma mulher estéril e anciã seria tão surpreendente quanto a de uma jovem sem relação com homem. Por isso, Maria não pensou duas vezes e “partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia” (v. 39). Muito tem se discutido a respeito da finalidade dessa partida tão apressada. As interpretações mais populares e devocionais atribuem essa partida à vontade de Maria de servir, de ajudar à sua parenta. Porém, em momento algum o texto afirma isso, nem mesmo dá indícios.

O anjo afirmou a Maria que Isabel, sua parenta, já estava no sexto mês de gravidez, e logo que o anjo a deixou, imediatamente, Maria partiu com pressa para a casa de Isabel. Ora, diz o texto que Maria permaneceu três meses na casa da parenta e retornou para casa. Tendo retornado após três meses, fica claro que seu propósito não era propriamente o serviço, uma vez que é exatamente após o parto que a mulher mais necessita de cuidados e ajuda. E, Maria voltou para casa antes do parto. Se o objetivo da viagem fosse apenas o serviço à parenta, ela teria permanecido com a mesma após o parto.

Portanto, podemos concluir, sem dificuldade, que Maria pôs-se a caminho para a casa de Isabel com o intuito de comprovar a veracidade do anúncio da parte do anjo. Como uma mulher atenta e perspicaz, sensível aos sinais dos tempos, ela fez bem em conferir esse fato. Isso apenas comprova que era uma mulher prudente, de fé sólida. Além disso, o texto revela, de modo antecipado, muitos aspectos da teologia tratada por Lucas ao longo de toda a sua obra (Evangelho segundo Lucas e Atos dos Apóstolos). É típico de Lucas, o movimento, o sair de si. O constante partir de um lugar para outro é um traço característico do Evangelho de Lucas, principalmente da parte de Jesus com os discípulos. Essa partida imediata de Maria faz dela um modelo de discípula e, ao mesmo tempo, inaugura o primeiro movimento de Jesus: ainda no ventre, Ele já estava inquieto e pronto a romper qualquer situação de estabilidade e tranquilidade, mesmo enfrentando adversidades e perigos, como Maria enfrentou ao partir sozinha para uma região montanhosa e de difícil acesso.

O fato de Maria não ter ido à casa de Isabel apenas para servi-la não diminui o seu papel e o seu valor. Antes de tudo, merece atenção e reverência a sua coragem e determinação de partir sozinha e apressada para uma região distante, percorrendo caminhos difíceis e perigosos. Para uma mulher, isso era praticamente inadmissível, e ela, com muita audácia o fez, rompendo muitas barreiras, antecipando o papel da Igreja, da qual ela é modelo: romper barreiras, colocar-se em estado constante de saída, independente do perigo a ser enfrentado. 

Ao chegar ao destino, Maria “Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel” (v. 40). Muito mais que cumprimentar, o verbo "saudar" seria mais apropriado na tradução do texto, por ser mais compatível com a língua original e o contexto em questão. A expressão hebraica para a saudação é desejar a paz (em hebraico: shalom). Ao enviar os discípulos em missão, Jesus ordenou que eles desejassem a paz em cada casa que entrassem (cf. Lc 10,5). Aqui, mais uma vez, Maria antecipa a atitude de cada discípulo e discípula: ser portador (a) da paz! Como mulher inovadora e corajosa, ela ignora a tradição patriarcal e saúda a mulher em lugar do homem (v. 40). Assim, ela provoca uma verdadeira revolução e inversão de valores nas relações sociais, como aprofundará no seu hino, o Magnificat. Na sociedade do seu tempo, o primeiro a receber a saudação era o dono da casa. Saudando primeiro a mulher, ela afirma que um tempo novo está surgindo, com novas relações e uma nova ordem.

A saudação de Maria irradia paz no ambiente, a ponto de fazer até mesmo a criança, ainda no ventre, agitar-se (v. 41a). Isso porque Isabel fica “cheia do Espírito Santo” (v. 41b). Trata-se do mesmo Espírito prometido pelo anjo a Maria no momento do anúncio: “O Espírito Santo descerá sobre ti” (cf. Lc 1,35a). Como força vital, o Espírito Santo é luz irradiante e interpelante, que pode ser sentido quando transmitido por pessoas cheias dele, como Maria. A atitude de Isabel não poderia ser outra, senão exclamar, gritando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (v. 42). É a palavra profética que nela se atualiza. Sabendo que Maria carregava dentro de si o Messias, isso fazia dela a mais ‘bendita’ entre todas as mulheres. Assim, Isabel torna-se a primeira a proclamar ‘bem-aventuranças’ no Evangelho segundo Lucas. Ora, gerar filhos na mentalidade bíblica, era sinal de bem-aventurança e bênção; uma confirmação de que se tinha Deus a seu favor. Logo, gerar o Messias seria prova de uma dignidade inigualável.

Tendo composto seu Evangelho com muita atenção para a escritura hebraica, o Antigo Testamento, Lucas procura atualizá-lo no ‘evento Cristo’. Assim, na continuação da exclamação de Isabel, o evangelista desenha Maria como a nova ‘Arca da Aliança’. Como sabemos, na arca da aliança eram guardadas as tábuas da lei, sinal máximo da presença de Deus no meio do seu povo. Com a exclamação de Isabel: “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? ” (v. 43), Lucas relembra e atualiza as palavras de Davi quando estava para receber a Arca em sua casa: “Como virá a Arca de Iahweh para minha casa?” (2 Sm 6,9). Portanto, Lucas percebe em Maria a arca da nova aliança, não mais portadora da lei, mas portadora do amor e da misericórdia de Deus. Davi exclamou com medo (cf. 2 Sm 6,10), enquanto Isabel exclamou de alegria.

E, mais uma vez, Maria é reconhecida como bem-aventurada: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (v. 45). Além de exaltar as qualidades de Maria, as palavras de Isabel são também uma repreensão ao seu esposo Zacarias, o qual, ao contrário de Maria, não acreditou no anúncio do anjo (cf. Lc 1,20), por isso ficou mudo até que o menino nascesse. Isabel combate a incredulidade do marido, por sinal um sacerdote, e reforça a sua fé renovada pela presença de Maria, como ela confessou: “Será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (v. 45b). Ao repreender a incredulidade do esposo sacerdote, Isabel proclama a decadência da antiga religião oficial, demonstrando que somente os pobres, simples e humildes são capazes acolher as intuições do Espírito Santo, como Maria. Assim, a religião do rigor e da lei está completamente falida.

Provavelmente constrangida com tantos elogios da parte da sua parenta, Maria a interrompe e, exultando de alegria, expressa seu louvor a Deus com o hino conhecido como Magnificat (vv. 46-54). Isso reflete também a preocupação do evangelista com a construção futura da imagem de Maria na Igreja; o centro do culto e da vida cristã é sempre Deus, pois é ele o autor das maravilhas operadas e, portanto, é a ele que o reconhecimento e o louvor devem ser dirigidos. O Magnificat é o primeiro dos hinos que Lucas apresenta em seu Evangelho. Trata-se de uma composição que sintetiza todo o Antigo Testamento. Lucas faz uma construção nova com pedras antigas, pois o texto é um verdadeiro mosaico de citações do Antigo Testamento. A estrutura geral é tomada do cântico de Ana (cf. 1Sm 2,1-10), o que se explica pela analogia das duas situações. Se Isabel estava maravilhada por contemplar grandes coisas (vv. 42-45), Maria lhe ajuda a compreender melhor tal situação, convidando-lhe a olhar para a história e perceber que, na verdade, esse Deus de Israel nunca esqueceu o seu povo, sempre fez grandes coisas em seu favor e, portanto, é a Ele que o louvor deve ser dirigido. Tudo o que está acontecendo é dom de Deus.

Maria personifica todo o Israel e resume os grandes feitos de Deus na história, destacando, sobretudo, a sua predileção pelos pobres, humildes e humilhados. Quando reconhece que “o Todo-Poderoso fez e faz grandes coisas” (v. 49), ao mesmo tempo se afirma que não há outros poderosos, exatamente porque devem ser derrubados de seus falsos tronos (v. 52). É o início do cumprimento das antigas promessas, agora sob a responsabilidade de Jesus e a comunidade dos discípulos, da qual Maria é modelo. A versão das bem-aventuranças e maldições é também aqui antecipada: “Encheu de bens os famintos” (v. 53a) antecipa as bem-aventuranças dirigidas aos pobres (cf. Lc 6,20-21); “Despediu os ricos de mãos vazias” (v. 53b) antecipa as repreensões dirigidas aos ricos (cf. Lc 6,24-25). É, sem dúvidas, a síntese da oração de Israel que deverá ser continuada pela comunidade dos discípulos, a Igreja cristã.

A conclusão do texto reafirma a imagem de Maria como nova arca da nova aliança: “Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa” (v. 56). Uma expressão muito parecida aparece em 2Sm 6,11: A Arca de Iahweh ficou três meses na casa de Obed-Edom de Gat, e Iahweh abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família”. A presença de Maria na casa de Isabel foi, com certeza, a confirmação da bênção de Deus sobre ela, seu esposo Zacarias e o filho esperado, João Batista. Na arca da nova aliança não há tábuas da lei, não há norma nem preceito, há apenas Jesus, expressão máxima do amor e da misericórdia de Deus para com a humanidade.

  

Pe. Francisco Cornelio Freire Rodrigues – Diocese de Mossoró-RN