Ele não foi nenhum nobre, nem um rei, não realizou nenhuma façanha militar nem nada que deixasse vestígios arqueológicos
Há numerosas provas históricas da existência de Jesus – inclusive mais do que as que demonstram a existência de pessoas como Júlio César.
A certeza histórica da existência de Cristo nunca foi questionada com seriedade em 2 mil anos; pelo contrário, foi demonstrada por fatos e inúmeras fontes antigas, cristãs, judaicas e pagãs.
A vida terrena de Cristo não tinha nada para merecer a atenção de alguns historiadores o início da nossa era. A trajetória de um jovem provinciano que não construiu nada, não escreveu nada e só pregou durante três breves anos na Palestina, antes de morrer em uma cruz romana, não tinha realmente vocação de marcar a história.
A vida de Jesus deveria ter passado totalmente inadvertida do ponto de vista histórico. Ele não foi nenhum nobre, nem um rei, não realizou nenhuma façanha militar nem nada que deixasse vestígios arqueológicos (exceto a Síndone de Turim e algumas relíquias). Com relação ao pequeno número de autores do século I que conhecemos – basicamente romanos e cerca de 20, segundo o historiador inglês E. M. Blaiklock –, eles se interessavam em geral somente pelos grandes acontecimentos políticos. Finalmente, a invasão e destruição de Jerusalém pelos romanos (ano 70) e o fato de que estes, durante 3 séculos, tentassem erradicar todo e qualquer rastro do cristianismo não deixariam a priori muitas possibilidades de que houvesse evidências disponíveis sobre o que ocorreu na Palestina na época de Jesus, e muito menos da vida de Jesus.
“O fato do Filho de Deus ‘Se fazer um de nós’ verificou-se na maior humildade – escreve João Paulo II em sua carta Tertio millenio adveniente, em 1994 –, pelo que não admira que a historiografia profana, absorvida por fatos mais clamorosos e personagens que davam mais nas vistas, lhe tenha dedicado, ao início, somente acenos fugidios, ainda que significativos (n.5).”
Cristo teve, no entanto, muitos discípulos que, depois da sua ressurreição, deram testemunho dele corajosamente, pagando com a sua vida pelo que haviam visto e ouvido. Os 27 livros do Novo Testamento apresentam critérios de fiabilidade histórica: a pessoa pode se sacrificar pelo que acredita ser a Verdade, mas nunca daria a sua vida por algo que sabe que é mentira.
Os 27 livros do Novo Testamento, escritos pelos 4 evangelistas, 5 autores de cartas, testemunhas e contemporâneos, abrangem o período que se estende do nascimento de Cristo ao ministério dos primeiros apóstolos. As cartas de Paulo são datadas entre os anos 48 e 67, o que o situa em uma época na qual os adultos haviam sido contemporâneos de Cristo e podiam, portanto, reagir com relação à veracidade dos seus escritos.
Deixando de lado certas divergências menores que geralmente podemos explicar, encontramos nesses escritos uma abundância de detalhes geográficos e históricos que coincidem perfeitamente, e numerosos critérios fiáveis que mostram que estas testemunhas são pessoas sinceras e bem informadas, que não temem revelar seus próprios equívocos, faltas ou fraquezas, com tal de contar fielmente o que sabiam dos fatos. Por exemplo, não omitem nenhuma das reprovações feitas por Jesus a elas: “Corações sem inteligência, lentos para crer…” (Lc 24, 25).
Parece difícil duvidar da sinceridade destas pessoas que querem até dar a vida para afirmar a veracidade do que dizem. Que interesse teriam em mentir? Para enganar quem e conseguir o quê? Três dos evangelistas e 11 dos 12 apóstolos selaram seu testemunho com o martírio. A pessoa pode se sacrificar pelo que acredita ser a Verdade, mas nunca daria a sua vida por algo que sabe que é mentira.
A prova mais contundente de que Jesus existiu é o fato de que milhares de cristãos do primeiro século, incluindo os 12 apóstolos, efetivamente aceitaram arriscar ou entregar suas vidas como mártires por Cristo Jesus.
A existência de Jesus é demonstrada pelos testemunhos de contemporâneos com grande continuidade, do século I ao II, depois pelos Padres da Igreja e também pelos relatos apócrifos.
Além dos 27 livros do Novo Testamento, que nos proporcionam informações de primeira mão sobre Jesus, sua vida e seus ensinamentos, existem outros muitos escritos não bíblicos que testificam sua historicidade.
Os primeiros testemunhos históricos a levar em consideração são dos padres chamados “apostólicos” – homens ou escritos anônimos do período imediatamente posterior ao dos apóstolos. Encontramos, por exemplo, as cartas de Clemente de Roma (um colaborador próximo de São Paulo), de Inácio de Antioquia (provável discípulo de Pedro e João) e de Policarpo de Esmirna (instruído pelos apóstolos e constituído bispo por eles), que comentam as Escrituras e ilustram as comunidades cristãs sobre os diversos ensinamentos transmitidos por Jesus aos primeiros discípulos.
Para eles – e para toda a geração seguinte (dos séculos II ao VI) –, os autores eclesiásticos, conhecidos sob o nome mais genérico de “Padres da Igreja”, como Eusébio de Cesareia, Irineu de Lyon, Orígenes, Tertuliano, não tiveram dúvida de que Jesus é um personagem histórico. E a sua adesão aos seus ensinamentos é total.
Quanto aos relatos apócrifos, que apresentam aos historiadores tantos problemas de reconstituição devido à frágil fiabilidade das tradições que transmitem, jamais colocam em dúvida a existência de Jesus.
Junto a estas fontes, que oferecem também os primeiros balbucios da Igreja após a morte de Jesus, outros escritos não-cristãos do mundo antigo mencionam a pessoa de Jesus sem jamais questionar a sua existência.
Inclusive os judeus que combateram a Igreja desde o começo nunca questionaram os relatos evangélicos.
O Talmude, que é uma recopilação das tradições orais do judaísmo, redigida no século IV, fala de Jesus em vários lugares, dizendo dele e dos seus discípulos que faziam milagres mediante a magia, mas sem evocar jamais a hipótese de que Cristo nunca tenha existido. O Talmude babilônico confirma a crucifixão de Jesus na vigília da Páscoa.
Jesus também é mencionado pelo historiador judeu convertido em cidadão romano, Flávio Josefo (século I), quem menciona Jesus e seu “irmão” Tiago em suas “Antiguidades Judaicas” (sobre a história do povo judeu). Ele, contemporâneo dos acontecimentos, fala também de um “Jesus hábil em fazer prodígios”, que “foi condenado à cruz”.
É mencionado também pelo filósofo platônico Celso, um judeu romano, autor do “Discurso Verdadeiro”, virulento ataque contra o cristianismo (século II). Nele, escreve: “Vocês consideram como Deus um personagem que acabou uma vida infame mediante uma morte miserável”.
Entre os romanos, podemos indicar três testemunhas que, como os judeus, não são, em absoluto, elogiosos com relação a Jesus, mas têm o mérito de oferecer outras provas da sua existência: Plínio o Jovem, governador romano por volta do ano 122 da nossa era; o historiador Tácito, considerado o mais preciso do mundo antigo, pois fala da morte de Jesus em seus Anais, escritos por volta do ano 115; e Suetônio (+125), que cita os cristãos em “A vida dos 12 Césares”: “Cláudio expulsou os judeus de Roma, que causavam permanentes problemas, devido a um tal Chrestus”, diz em uma delas.
É preciso mencionar igualmente o testemunho de um escritor satírico grego: Luciano de Samósata (125-192), que diz de Cristo que “é honrado na Palestina”, pois “foi crucificado depois de introduzir um novo culto entre os homens”; é “o primeiro legislador” dos cristãos, “o sofista crucificado” cujas leis permanecem (“Morte de Peregrinus”, 11-13).
Cabe lembrar também do pagão Thallus (ou Thale), um historiador/cronista contemporâneo de Cristo, citado pelo escritor Sexto Júlio Africano (em 220), que fala do eclipse ocorrido no momento da crucifixão de Cristo.
Outro testemunho procede de um dos raros documentos históricos do século I que foi encontrado: uma carta conservada no British Museum (manuscrito sírio n. 14658), no qual certo Mara Bar-Serapion, sírio, então preso, dirige-se ao seu filho Serapion, pedindo-lhe que busque os caminhos da sabedoria. Após ter citado os nomes de Sócrates e Pitágoras, cita Cristo (Christus), dizendo dele: “Que vantagem tiveram os judeus, executando o seu rei sábio? Seu reino foi destruído pouco depois”. O sírio confirma indiretamente que Jesus era reconhecido como homem sábio e virtuoso, considerado por muitos como o rei de Israel, que foi executado e que sobreviveu nos ensinamentos dos seus discípulos.
“Estes relatos independentes mostram que, desde os primeiros tempos, nem sequer os adversários do cristianismo duvidaram de que Jesus tenha realmente existido”, conclui hoje a Encyclopediae Britannica, precisando que “foi no final do século XVIII, durante o século XIX e no começo do século XX que a historicidade de Jesus foi questionada pela primeira vez, por motivos insuficientes, por parte de diversos escritores”.
No século XVII, a história se tornou uma verdadeira ciência. Foi nesse momento que nasceram (como em muitos outros temas) as primeiras perguntas sobre a existência de Jesus. Mas foi nos séculos seguintes quando houve verdadeiramente dúvidas e discussões, certos historiadores extremistas começaram a desenvolver teses segundo as quais Jesus teria sido produto de um mito ou de uma mitologia.
Mas as suas teses foram refutadas, uma a uma, pelos historiadores especializados, como o professor de história do cristianismo na Sorbonne, Charles Guignebert, em 1933, quem disse, com relação a elas: “Os esforços, com frequência eruditos e engenhosos dos especialistas em mitologia, não convenceram os sábios independentes e desinteressados, a quem não lhes impediria reconhecer um fato bem estabelecido. Sua adesão teria uma razão de ser. O entusiasmo dos incompetentes não compensa este fracasso”.
Depois dos anos 30, a questão da historicidade de Jesus teve um parênteses e, após esse período, conheceu uma nova tentativa de recuperação nos anos 50, mas foi rapidamente sufocada pelos especialistas em Novo Testamento e em cristianismo antigo, que não aceitaram nenhuma das hipóteses propostas.
Atualmente, 95% dos historiadores acreditam que Jesus existiu. São unânimes: existem mais provas da sua existência que da existência de outros personagens históricos, como Júlio César, por exemplo, nascido 100 anos antes dele.
Fonte: Aleteia
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