Partindo da ideia que fé é acreditar naquilo que não se vê a priori. Na carta ao Hb 11.1 encontra-se que: Fé é a consistência do que se espera, a prova do que não se vê. Isso leva a pensar que a fé sempre está ligada ao conceito de confiança, confiar acima de tudo. Portanto, fé é uma palavra que significa confiança, crença, credibilidade. A fé é um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em causa.
A fé é a primeira das virtudes teologais, que segundo o Compendio do Catecismo da Igreja Católica, têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano (CCIC n. 384).
NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento não é possível encontrar a palavra fé sozinha. Por isso, é necessário encontrar o conceito de fé atrás de alguns fatos bíblico históricos. Como é bem sabido, é a partir do grande patriarca Abraão que o conceito começa a tomar forma, tanto assim, que hoje é conhecido como o Pai da fé Gn 15.6. Abraão é seminômade, que percorre em suas andanças, diversos territórios, os quais serão dos seus descendentes. Abraão conhece de perto muitas culturas, que acreditavam que os fenômenos naturais são manifestações divinas dos deuses para mostrar seu poder para os humanos. Mas é com Abraão que no vazio da esterilidade de Sara, sua esposa, ressoa a palavra do Senhor: no princípio, criadora do universo, agora criadora de história Gn 12.1-9.
A palavra fé que aparece no Antigo Testamento é a tradução de duas palavras em hebraico: A palavra aman que dava ênfase à certeza, à firmeza, e que deu origem a palavra amem Dt 27.15-26, e a palavra batah que significava confiança. Como verbo é muitas vezes traduzida por crer, confiar, esperar: Sl 4.5 confiai no Senhor, Sl 25.2 em ti confio, Sl 55.23 mas eu em ti confiarei. De esta forma surge no Antigo Testamento a fé como uma resposta do povo de Israel ao Deus que o escolheu para seu povo.
Um dos casos que é considerado dos melhores exemplos de fé do Antigo Testamento está em Esd 8.21,22ss quando Esdras recusa a ajuda militar da Babilónia. No entanto, Esdras não era nenhum ingénuo. Ele pensou em tudo da melhor forma possível, estava consciente dos perigos que corria, fez tudo o que estava ao seu alcance e só depois de esgotados todos os seus recursos é que pediu ao Senhor que o ajudasse naquilo que estava para além das suas possibilidades.
É importante observar que inicialmente, no tempo de Abraão (1900 AC), e principalmente no tempo de Moisés (1200 AC), a fé se manifestava no cumprimento dos rituais da Velha Lei. Pois a um povo de escravos, não se lhe podia exigir mais que o cumprimento do ritual, mas já no tempo de Isaías (500 AC) o conceito de fé era mais desenvolvido, ao ponto de ser mais importante que o ritual em si, Is 1.11-17, pois o Senhor rejeita os sacrifícios que eram efetuados segundo todas as normas e rituais do Antigo Testamento, mostrando assim, que não basta o ritual, sem o seu significado espiritual. Porque a revelação do Senhor através das Escrituras e dos Profetas, tem sido sempre a revelação possível de ser entendida pelo homem através do amadurecimento da sua fé.
Para o povo hebreu, confiar em Deus é a atitude mais acertada que eles tiveram perante os outros povos; porque essa confiança em Deus dá segurança, alegria e força para enfrentar qualquer desafio que esteja na sua frente. Isto passou de geração em geração: em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste Sl 22.4. Portanto, isso dá para o povo hebreu uma a confiança alegre, inabalável de uma fé inteligente; a segurança da confiança sem temor no Senhor. Essa confiança inabalável está fundamentada no trinômio: o povo, o Senhor e a promessa da terra prometida. Terra que o povo consegue, mas perde pela sua falta de confiança (fé) em Deus. Mesmo assim, o povo se levanta das cinzas, quantas vezes for necessário, e recupera sua confiança e vá à luta pela posse da terra, pois a aliança e a promessa continuam valendo, enquanto confiar no Senhor.
Essa fé, mais tarde, é expressada nas 613 normas, colocadas por escrito, como uma forma de garantir que a promessa sempre vai ser cumprida, mas para isso o povo deve se manter fiel. Os sacerdotes têm uma grande importância na vida do povo, pois são eles os encarregados de mostrar o caminho da fé e alimentar a esperança com rituais e sacrifícios, mas os profetas têm a difícil missão de denunciar seus desvios.
NO NOVO TESTAMENTO
Partindo da etimologia, a palavra fé tem origem no Grego pistia que indica a noção de acreditar e no Latim fides, que remete para uma atitude de fidelidade. Neste sentido, uma das características que se notam na fé, no Novo Testamento, é que enquanto no Antigo, Deus era o objeto da fé, no Novo a fé em Cristo é identificada com a fé em Deus.
Assim, a fé não está, em primeiro lugar, relacionada com verdades específicas ou com promessas para o futuro, nem mesmo com revelações sobre a existência de um Deus transcendente. A fé no Novo Testamento, começa com ir ao encontro da pessoa de Jesus, e esta caminhada é frequentemente motivada por uma sede. Algo já começou secretamente no coração, que já se sente atraído. Isto é, com a encarnação e com a presença de Jesus como ser humano, a fé assume num primeiro momento uma forma muito simples: um desejo pode conter em si o princípio da fé; um movimento já representa o início da caminhada.
As primeiras referências à fé no Novo Testamento encontram-se na proclamação por Jesus do Reino de Deus Mc 1.15, arrependei-vos e crede no Evangelho. Portanto, a fé é a aceitação do Reino de Deus. Assim no Novo Testamento e nos ensinamentos de Jesus, a fé se torna condição principal para a sua atuação. Jesus em Mc 9.21-24 na cura do filho epilético, o pai apela à compaixão: se podes tem piedade. Jesus responde apelando à fé como condição para curar-se. O pai pede mais fé, pois é consciente do seu desamparo e do dinamismo da fé, e procura apoio em Jesus.
Também é possível ver o contrário em Mc 6.5-6. Pois a incredulidade ou a falta de fé impediu e até prejudicou a ação de Jesus na sua própria terra, pois a fé é condição para compreender os ensinamentos de Jesus, portanto a fé é o meio receptor do poder divino. Para Lc 8.12 a fé é condição necessária para a salvação assim como para Mc 16.16 Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
Jesus aponta que a fé é algo de muito poder na vida de uma pessoa, pois mostra que a presença da fé, mesmo que de forma pequena, faz muita diferença. Se tivesses fé como um grão de mostarda, direis a essa amoreira: Arranca-te pela raiz e planta-te no mar, ela vos obedeceria Lc 17. 6.
Depois da vida pública de Jesus, quando já não se encontra fisicamente entre os seus discípulos, o movimento em direção a ele já não se expressa pela mudança de lugar, ir ao seu encontro e, depois, segui-lo, como acontecia antes da ressurreição, segundo os Evangelhos. Quem crê em Jesus, dá um passo concreto, mas este passo implica abandonar-se a ele, entregar-se a si próprio e ceder-lhe o espaço. O paradoxo da fé torna-se mais evidente: é praticamente nada e, no entanto, é o mais importante. Trata-se de abrir constantemente a porta do coração a Jesus, sabendo, ao mesmo tempo, que ele já está lá.
No pensamento deixado por Paulo, a fé tem um lugar central, principalmente nas cartas aos Romanos e aos Gálatas. Para Paulo, a fé está intimamente relacionada com a fidelidade 2Ts 1.4 e 2Tm 4.7 e a convicção Rm 14.23. Uma das passagens mais importantes que Paulo deixou encontra-se em Rm 10.1-17 onde mostra que a fé pressupõe a revelação que a antecede num contexto de arrependimento. Deixa claro, Paulo, que o único caminho para Deus é através da fé no Cristo crucificado. E em Rm 10.17, a fé não vem pelo nascimento ou pelo batismo ou outro qualquer ritual, mas vem pelo ouvir (aceitar) a palavra de Deus, quando se trata da genuína mensagem de Jesus.
Outro aspecto muito importante da fé segundo Paulo é como meio de justificação, isto é, a justificação pela fé, em oposição à justificação pelas obras de Lei Rm 3.21-28. E segundo Tiago, fica evidente que a fé deve produzir no ser humano o desejo de realizar boas obras. A fé é para o homem e também para ser espalhada ao seu redor. Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta, Tg 2.26.
CONCLUSÃO
Na idade escolástica da Igreja Católica (anos 900 a 1.600), se falava de Fé (fides) em dois sentidos. O primeiro é a Fé como ação de crer, de acreditar (fides qua creditur), para isso é importante a confiança, o entregar-se a aquele que é o objeto, o fim do crer (fidúcia). O segundo é o que se crê, no que se acredita (fides quae creditur) a Fé envolve a aceitação do que se crê. Logicamente estes dois sentidos dever ir juntos, pois a confiança precisa de um objeto e o que se crê determina o carácter da confiança que se tem.
Portanto, para falar de fé, é necessário pensar na dimensão humana, que é quando o ser humano acredita em pessoas e em coisas que podem acontecer, tanto boas quanto ruins. Essas coisas são fruto das ações humanas. Como por exemplo acreditar em passar num teste para um trabalho, para uma faculdade, etc. É a certeza do dever cumprido pela sua ação. A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais, tais como reconforto em momentos de aflição desprovidos de sinais de futura melhora, relacionando-se nesse sentido com a esperança; e a motivos considerados moralmente nobres ou estritamente pessoais e egoístas. Pode estar direcionada a alguma razão específica ou mesmo existir sem razão definida. Mas este tipo de fé depende estritamente do agir meramente humano.
Por outro lado, existe a fé que transcende o ser humano, a fé que leva o homem a sair de si e procurar um sustento em um Ser Superior. Esta fé no começo está guardada, mas em algum momento ela pode ser despertada, e esse despertar leva o ser humano para outras realidades e experiências, como aconteceu com Abraão. O Senhor disse a Abrão: Sai de tua terra natal, da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei Gn 12:1. Abraão pela fé decidiu mudar de vida, sair da sua terra dos seus pais e ir para uma outra, a qual ele não conhecia.
Está é a fé que faz a pessoa mudar a sua vida, mudar as suas ideias e seus conceitos. Incluso, Paulo chega a considerar a tudo como lixo: Mais ainda: considero tudo perda em comparação com o superior conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por ele dou tudo como perdido e o considero lixo, contanto que eu ganhe a Cristo Fl 3.8. Este tipo de fé é o que manterá Paulo, por toda a sua vida no caminho da fé e o manterá firme neste caminho, na final o único lucro é Cristo.
A fé é geralmente associada a experiências pessoais podendo ser compartilhada com outros através de relatos no contexto religioso, a exemplo de Paulo que usou esse fato para, através das suas cartas, despertar a fé nas comunidades. Desta forma sua fé em Cristo era usada frequentemente como justificativa para a própria crença, o que caracteriza raciocínio circular.
Segundo o pensamento cristão, todo o conjunto dos ensinos transmitidos por Jesus Cristo e seus discípulos constitui a fé Gl 1.7-9. A fé cristã baseia-se em toda a Bíblia por acreditar ser a Palavra de Deus, incluindo as Escrituras Hebraicas, as quais Jesus e os escritores das Escrituras Gregas Cristãs frequentemente citaram em apoio das suas declarações. Segundo estas Escrituras, para ser aceitável a Deus, é necessário exercer fé em Jesus Cristo, e isto torna possível obter uma condição justa perante Deus.
De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, por tanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna merecedor dos que o buscam. Pois, a fé em Deus faz crer no incrível, ver o invisível e realizar o impossível. Somente com a fé em Deus os sonhos se atingem, as batalhas se vencem e os milagres acontecem.
Fonte: Portal Católico.
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