A Eucaristia não é um show para ser apenas observado
Quando seguramos a Eucaristia, seguramos uma granada: pino puxado.
As origens do Novo Testamento do sacrifício eucarístico estão na sala superior da Última Ceia, a refeição final de Jesus, por assim dizer, com seus íntimos antes de sua crucificação.
A Última Ceia começa formalmente as narrativas da paixão de Marcos, Mateus e Lucas. A esta altura, Jesus sabe que será traído e que as autoridades virão atrás dele. A atmosfera está tensa. Os apóstolos, recordem, não querem ouvir um messias sofredor, mas apenas um majestoso de quem eles certamente se beneficiarão.
Durante a Última Ceia, no entanto, Jesus antecipa sua paixão (Lc 22,15): seu sangue será derramado (Lc 22,20), seu corpo quebrado (Lc 22,19) para estabelecer uma nova promessa prometida anteriormente por Jeremias (Jr 31,31-33). O cenário teológico de uma refeição da Páscoa se estende mais para lembrar a libertação e o êxodo de Israel da escravidão egípcia para a terra prometida. No presente, Jesus agradece o cálice e o pão de acordo com a prática judaica na Páscoa, uma lembrança que inscreve os judeus contemporâneos na história em andamento da Aliança com Deus. O contexto desta oração de ação de graças, no entanto, é perturbador: Jesus agora associa cálice e pão com a morte que vem e ainda dá graças. Não há nada no texto que sugira ironia aqui, ainda que dar graças em antecipação à sua paixão não seja uma coisa pequena. Isso não é tudo.
A Última Ceia lembra o êxodo de Israel, o alimento sustentado de Deus (maná) no deserto e a promessa de Jeremias de uma nova aliança escrita nos corações, e antecipa sua paixão e morte, mas também aponta para outra refeição futura, o banquete celestial: “Porque eu lhes digo: De hoje em diante eu não beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”, (Lc 22,18; cf. Lc 22,16). Essa dupla referência ao Reino reúne a preocupação central da pregação de Jesus para a Eucaristia. Para recordar: o reino de Deus abençoa os pobres e os perseguidos por causa da justiça, cura os doentes, restaura os desprezados e os que estão fora da comunidade vivificante para a plena comunhão, estende a misericórdia, perdão e consolo. Os pobres recebem um lugar no banquete e, de acordo com Tiago (2,1-9), um lugar de honra. Essa visão do Reino, especialmente à luz de Mateus 25,31-46, onde o julgamento sobre as nações ocorre com base em quem fez e quem não ajudou a Cristo, presente nos rostos dos necessitados, sugere uma crítica profética da cultura atual. A Eucaristia fica na garganta porque tem farpas.
Talvez neste ponto a presença real ganhe mais aderência e maior densidade. Como é claro a partir da Missa, onde tudo é desenhado para a comunhão, o sacrifício eucarístico não é algo diferente da presença real do Cristo, é na obra da salvação, desde a criação até a aliança, a Cruz e a Ressurreição. Em vez disso, o sacrifício eucarístico – como a oferta total de Cristo ao Pai por nós – continua sua missão no Espírito para o seu Corpo. Ele não para de dar a si mesmo – de ser Amor – no século I. Ao invés disso, ele não dá nada além de si mesmo e dá tudo de si mesmo.
A Eucaristia, é claro, não é um show para se observar. A Eucaristia é contínua com a autoentrega do amor de Cristo para o mundo nos eventos de salvação e especialmente a Encarnação e a Cruz. Agora devemos procurar assumir o nosso papel em tudo isto – pois também oferecemos dons ao altar e assumimos o nosso papel como sacerdócio real (1Pd 2,1-10; L.G . 10). De fato, a ação de Cristo e o dom de seu Espírito possibilitam nossa participação em sua missão do Pai, e assim nossa oferta. A Eucaristia, portanto, é um êxodo, do pecado a uma vida nova, de uma existência fechada em autonomia autossegura ao serviço para o mundo, especialmente para aqueles que encontram bênção especial em seu reino.
Fonte: Aleteia
Nenhum comentário:
Postar um comentário