Mais do que nunca católicos têm deixado a Igreja – mais do que em qualquer outra religião – e um novo estudo publicado esta semana tenta ajudar desvendar por que razão tantos jovens adultos saem tão cedo do catolicismo.
O relatório intitulado “Going, Going, Gone: The Dynamics of Disaffiliation in Young Catholics”, publicado pela Saint Mary’s Press, editora de Minnesota, EUA, em colaboração com o Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado (Center for Applied Research in the Apostolate – CARA), da Universidade de Georgetown, vem num momento em que o Papa Francisco tenta centrar a atenção da Igreja sobre as necessidades dos jovens adultos.
Embora as respostas dos aproximadamente 1.500 jovens pesquisados neste estudo não sejam definitivas nem conclusivas, elas provavelmente servirão como um instrumento útil na dianteira da próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: os jovens, a fé e o discernimento vocacional, evento convocado pelo Papa Francisco a se realizar em outubro deste ano em Roma.
Como Francisco escreveu no documento preparatório para o Sínodo, “Através dos jovens, a Igreja poderá ouvir a voz do Senhor que ressoa inclusive nos dias de hoje”.
Se este for o caso, então há muito a se ouvir e aprender com este novo relatório qualitativo.
Conforme observa o estudo, a população católica dos EUA cresceu junto com a população geral do país nos últimos anos. Mais do que nunca, no entanto, católicos têm deixado a Igreja, num índice maior do que qualquer outra denominação cristã.
“De todas as grandes denominações, o catolicismo tem visto as maiores perdas líquidas como consequência das mudanças de afiliação, apesar de estas perdas estarem sendo compensadas grandemente com a imigração hispânica aos Estados Unidos”, escrevem os autores.
Dados de 2015 do Centro de Pesquisas Pew revelam que o número de americanos que não mais estão religiosamente afiliados aumentou de 16,1% em 2007 para 22,8%, uma estimativa de 19 milhões de americanos. Geralmente esta população recebe o nome de “os sem religião”, grupo que compõe aproximadamente 56 milhões de pessoas no país.
Com base na amostra envolvida no estudo, os autores estimam que “aproximadamente 12,8% dos jovens adultos americanos entre 18 e 25 anos são ex-católicos, e que aproximadamente 6,8% dos adolescentes dos EUA entre 15 e 17 anos são ex-católicos”.
Uma parcela equivalente a 74% da população envolvida no estudo disse que deixou o catolicismo entre os 10 e 20 anos.
Embora as respostas individuais variem, “a desafiliaçao da Igreja é, em grande parte, uma escolha pensada, consciente e intencional feita pelos jovens em uma sociedade secularizada onde a fé e a prática religiosa são vistas como uma opção entre muitas”, lê-se no texto publicado.
Na tentativa de entender por que razão católicos jovens deixam a Igreja, os pesquisadores categorizaram as respostas em três grandes grupos: os machucados, os flutuadores e os dissidentes.
Para os jovens machucados, a experiência, seja com a própria família, seja com a própria Igreja, muitas vezes leva a um conflito religioso que os conduz a se separar dela.
No âmbito das experiências nesta categoria estão o divórcio, a doença e a morte. Os autores observam que, embora a religião frequentemente seja considerada uma fonte de esperança e sustentação nestas circunstâncias, este pode também ser um período em que os laços com a Igreja são cortados.
Os flutuadores, no entanto, deixam a Igreja devido a uma desconexão lenta entre aquilo que descrevem como “regras e rituais sem sentido” da Igreja versus aquilo que vivenciam no “mundo real”. Para muitos dentro desta população, o exemplo dos pais é igualmente essencial.
“Os jovens irão inconscientemente absorver as atitudes dos pais”, escrevem os autores.
Se os flutuadores demonstram uma atitude para com a Igreja como aquela de quem diz
“E daí?”, os dissidentes são conhecidos por uma resistência mais ativa a certos ensinamentos católicos. Embora a oposição a questões nevrálgicas – como o ‘casamento’ gay, o uso de métodos contraceptivos e o aborto – seja o mais comum, muitas vezes o desacordo deste grupo tem a ver com temas mais fundamentais de doutrina, tais como a salvação, o céu e o inferno.
De acordo com os resultados trazidos no relatório, 35% dos respondentes não têm mais nenhuma forma de afiliação religiosa, 29% se identificam com uma afiliação cristã não protestante, 14% se identificam como ateus ou agnósticos e 9% como protestantes.
Entre as várias dinâmicas de desfiliação, os autores identificaram as seis causas originárias principais: um evento ou uma série de eventos que levaram à dúvida; o aumento da secularização cultural; um novo sentido de liberdade após abandonar a crença religiosa; uma rejeição de uma religião que eles creem foi lhes passada forçosamente; a convicção de que é possível viver uma vida ética sem religião; e uma disposição a reavaliar a sua religiosidade caso sejam presenteados com argumentos ou provas racionais.
John Vitek, presidente e CEO da St. Mary’s Press e um dos principais autores do relatório, disse que a principal finalidade do estudo foi apresentar um fórum em que os jovens pudessem trazer suas histórias “em suas próprias palavras, sem censuras ou filtros”.
Segundo os autores, o estudo deverá fazer com que as lideranças pastorais reflitam sobre duas questões principais em consideração da juventude que têm deixado a Igreja:“Sabemos quem eles são – a profundidade de suas histórias – nós os conhecemos pelo nome?” e “Sentimos, hoje, a falta dessas pessoas, agora que elas foram embora?”
De fato, levantar questões para consideração e fornecer uma plataforma para as vozes dos jovens que deixaram o catolicismo constituem o uso duplo deste estudo: um tópico de debate que será central não só para a Igreja nos Estados Unidos, mas para a Igreja Católica como um todo – e não somente para este ano, mas para o futuro mais adiante.
Fonte: Blog do Carmadélio
Nenhum comentário:
Postar um comentário